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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A Única Dádiva


Consta-se que Simão Pedro estava cansado, depois de vinte dias junto do povo.

Banhara ferimentos, alimentara mulheres e crianças esquálidas, e, em vez de receber a aprovação do povo, recolhia insultos velados, aqui e ali...

Após três semanas consecutivas de luta, fatigara-se e preferira isolar-se entre alcaparreiras amigas.

Por isso mesmo, no crepúsculo anilado, estava, ele só, diante das águas, a refletir...

Aproxima-se alguém, contudo...

Por mais busque esconder-se, sente-se procurado.

É o próprio Cristo.

- Que fazeis, Pedro? – diz-lhe o Senhor.

- Penso, Mestre.

E o diálogo prolongou-se.

- Estás triste?

- Muito triste.

- Por que?

- Chamam-me ladrão.

- Mas se a consciência te não acusa, que tem isso?

- Sinto-me desditoso: Em nome do amor que me ensinas, alivio os enfermos e ajudo aos necessitados. Entretanto, injuriam-me. Dizem por aí que furto, que exploro a confiança do povo... Ainda ontem, distribuía os velhos mantos que nos foram cedidos pela casa de Carpo, entre os doentes chegados de Jope. Alegou alguém, inconsideradamente, que surripiei a maior parte. Estou exausto, Mestre. Vinte dias de multidão pesam muito mais que vinte anos de serviço na barca.

- Pedro, que deste aos necessitados nestes últimos vintes dias?

- Moedas, túnicas, mantos, ungüentos, trigo, peixe...

- De onde chegaram as moedas?

- Das mãos de Joana, a mulher de Cusa.

- As "túnicas"?

- Da casa de Zobalan, o curtidor.

- Os mantos?

- Da residência de Carpo, o romano que decidiu amparar-nos.

- Os ungüentos.

- Do lar de Zebebeu, que os fabrica.

- O trigo.

- Da seara de Zaqueu, que se lembra de nós.

- E os peixes?

- Da nossa pesca.

- Então, Pedro?

- Que devo entender, Senhor?

-Que apenas entregamos aquilo que nos foi ofertado para distribuirmos, em favor dos que necessitam. A Divina Bondade conjuga as circunstâncias e confia-nos de um modo ou de outro os elementos que devamos movimentar nas obras do bem... Disseste servir em nome do amor...

- Sim, Mestre...

- Recorda, então, que o amor não relaciona calúnias, nem conta sarcasmos.

O discípulo, entremostrando súbita renovação mental, não respondeu.

Jesus abraçou-o e disse:

- Pedro, todos os bens da vida podem ser transmitidos de sítio a sítio e de mão em mão... Ninguém pode dar, em essência, esse ou aquele patrimônio do mundo, senão o próprio Criador, que nos empresta os recursos por Ele gerados na Criação... E, se algo podemos damos dar de nós, o amor é a única dádiva que podemos fazer, sofrendo e renunciando por amor...

O apóstolo compreendeu e beijou as mãos que o tocavam de leve.

Em seguida, puseram-se ambos a falar alegremente sobre as tarefas esperadas para o dia seguinte.


Autor: Irmão X.
Psicografia de Francisco Xavier.

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