Uma breve lição sobre a relação
Médium x Mediunidade praticada
É
praxe! Semanalmente abarcam centenas de pessoas nos terreiros com a intenção de
desenvolver a mediunidade.
Dia
destes um indivíduo em consulta perguntou ao Caboclo que lhe atendia:
-
“Caboclo, preciso desenvolver a mediunidade, posso fazer isso aqui?”
O
rapaz não conhecia o terreiro, era sua primeira visita, o Sr. Caboclo retrucou:
-
Sim filho, pode sim, antes nos responda algumas perguntas simples e saberemos
quando e onde iniciará seu desenvolvimento mediúnico.
-
Pois sim Caboclo, qual a dúvida?
-
Filho, sabe o que é mediunidade?
O
rapaz esboçou surpresa em suas feições, pensou rapidamente e prosseguiu:
-
Sei Caboclo, é a capacidade de incorporar os guias espirituais.
-
Ah sim meu filho, entendo, mas devo dizer que isso não é mediunidade, ao menos
não é bem isso que o Caboclo está perguntando, vou tentar ser mais claro. Você
sabe para que serve a mediunidade?
-
Sei sim, para fazer a caridade!
-
Hum, e o filho quer desenvolver a mediunidade pra quê?
-
Para fazer a caridade, ajudar as pessoas.
-
Sei, sei… E porque o filho quer ajudar as pessoas?
O
rapaz ficou pálido e sem graça arriscou:
-
Para evoluir meu pai, porque esse é o caminho da luz.
-
Que luz meu filho?
-
Oras meu pai! A luz espiritual, como a vossa!
-
Hum, como o filho imagina que seja o desenvolvimento mediúnico?
-
Bem, já vi algumas vezes, vou vir de branco e vou girar até incorporar, mas já
aproveitando, quero dizer que tenho receio de girar, não vou conseguir me
concentrar, então prefiro que me deixem concentrando, assim será mais fácil.
O
rapaz já falava como se fosse parte do grupo. O Caboclo interrompeu e disparou:
-
Meu filho, que tipo de problemas você imagina que pode ter ao desenvolver a
mediunidade?
-
Acho que nenhum!? Por quê? Terei problemas?
-
Depende.
-
Como assim?
-
Depende do que o filho escolher.
-
Não estou entendendo.
O
Caboclo silenciou, olhou para o Congá, baforou do seu charuto no corpo do
rapaz, fechou os olhos, parecia estar orando, respirou fundo, olhou fundo nos
olhos do rapaz e ensinou:
-
Meu filho, você é mais um dentre milhares que se utilizam de discursos prontos,
respostas decoradas, ambições estranhas e ansiedade para sentir-se melhor que
os outros, o que é pior, via mediunidade.
Chegará
o inevitável dia do seu desenvolvimento mediúnico, e Caboclo deseja que chegue,
onde quer que seja.
Mas
este Caboclo deseja mais ainda: que o filho tenha respostas verdadeiras, que
encontre de uma forma pessoal o motivo real para o exercício mediúnico.
O
filho precisa saber que mediunidade não é entretenimento, não é uma atividade
que preenche apenas um espaço vazio da sua agenda.
O
primeiro passo para o desenvolvimento mediúnico é o compromisso em buscar o
autoconhecimento, é meditar muito, orar mais um tanto e ter a certeza de que
quer assumir um compromisso do qual todos os demais compromissos na vida sejam
secundários diante seus compromissos espirituais.
É
preciso que saiba muito bem o que significa comprometimento, dedicação e
respeito á tudo e a todos.
Estude
bastante sobre esta religião que quer seguir, pois se não a compreender, jamais
sentir-se-á compreendido pelos diferentes.
Considere
que caridade não é dar passe, descarregar ou qualquer coisa que seja feito
incorporado, saiba que esta é a nossa caridade, não sua, você médium e
religioso tem nas incorporações e o que acontece a partir dela apenas uma
consequência da fé e da mediunidade. Sua caridade deverá ser outras iniciativas
e não ocultas em nossas incorporações.
Também
lembre-se que ninguém ajuda ninguém se ao menos não esteja preocupado em se
ajudar primeiro, em lapidar-se e aprimorar-se, antes de pretender ser fonte é
preciso ser abastecido.
Você
terá preceitos a seguir, então sua rotina de hoje já não será a mesma, o que
você comeu hoje, se estivesse do lado de cá já não seria permitido.
Observe
seus vícios e aceite que se ensina e ajuda mais pelo exemplo do que por boa
vontade, se és um indivíduo rendido aos vícios da matéria, mesmo tendo plena
consciência dos males, então busque livrar-se destes grilhões antes de
pretender ser alguém que vá libertar os outros.
Ter
mediunidade prática não te faz melhor do que ninguém, apenas reforça que você
tem mais responsabilidade com o mundo, então não será por meio da mediunidade
que poderá extravasar questões de carências mal resolvidas na infância.
Este
caboclo poderia prosseguir com muitas outras considerações, mas vejo que o
filho já entendeu, então Caboclo pergunta:
-
O filho quer começar o desenvolvimento quando mesmo?!
Desconcertado,
pensativo e visivelmente desapontado o rapaz responde:
-
Meu Pai, desenvolverei quando ao menos conseguir praticar uma de suas
ponderações, desculpe-me pelo tempo que lhe tomei, vou pensar sobre isso tudo.
-
Não se desculpe meu filho, isso é o que o Caboclo veio fazer, amamos isso que
fazemos, esta é a nossa oportunidade de fazer a caridade, se consigo te ajudar,
isso me alegra. Mas meu médium não, ele apenas está no transe aprendendo com
isso tudo e exercitando sua religiosidade, entendeu?
-
Sim meu pai, acho que entendi!
-
Então fique em paz e na luz meu filho, se for da sua vontade e dos Orixás, nos
veremos mais adiante.
O
rapaz agradeceu o Caboclo e emocionado retirou-se do terreiro, voltaria nas
próximas semanas e talvez em alguns meses ou anos, ele sentiria o chamado, pela
vontade Maior e não pessoal.
Este
breve relato, é um fato e nos traz um alerta importante sobre a maneira que nos
relacionamos com a mediunidade, então responda: qual é a sua maneira???
Grande
abraço,
Rodrigo Queiroz –
www.rodrigoqueiroz.blog.br