O pensamento, dizíamos, é criador. Não atua somente ao redor de nós,
influenciando os nossos semelhantes para o bem ou para o mal; atua
principalmente em nós, gera nossas palavras, nossas ações e, com ele,
contruímos, dia a dia, o edifício grandioso ou miserável de nossa vida presente
e futura. Modelamos nossa alma e seu invólucro com os nossos pensamentos; estes
produzem formas, imagens que se imprimem na matéria sutil, de que o corpo
fluídico é composto. Assim, pouco a pouco, nosso ser povoa-se de formas
frívolas ou austeras, graciosas ou terríveis, grosseiras ou sublimes; a alma se
enobrece, embeleza ou cria uma atmosfera de fealdade. Segundo o ideal a que
visa, a chama interior aviva-se ou obscurece-se.
Se meditarmos em assuntos elevados, na sabedoria, no dever, no
sacrifício, nosso ser impregna-se, pouco a pouco, das qualidades do nosso
pensamento. É por isso que a prece improvisada, ardente, o impulso da alma para
as potências infinitas, tem tanta virtude. Nesse diálogo solene do ser com sua
causa (prece a Deus), o influxo do Alto invade-nos e desperta sentidos novos; a
compreensão, a consciência da vida aumenta e sentimos, melhor do que se pode
exprimir, a gravidade e a grandeza da mais humilde das existências (Deus).
A oração, a comunhão pelo pensamento com o universo espiritual e divino
é o esforço da alma para a Beleza e para a Verdade eternas; é a entrada, por um
instante, nas esferas da vida real e superior, aquela que não tem termo.
Se, ao contrário, nosso pensamento é inspirado por maus desejos, pela
paixão, pelo ciúme, pelo ódio, as imagens que cria sucedem-se, acumulam-se em
nosso corpo fluídico e o entenebrecem. Assim, podemos à vontade fazer em nós a
luz ou a sombra. Somos o que pensamos, com a condição de pensarmos com força,
vontade e persistência.
A fiscalização dos pensamentos implica a fiscalização dos atos, porque,
se uns são bons, os outros sê-lo-ão igualmente, e todo o nosso procedimento
achar-se-á regulado por uma concatenação harmônica. Ao passo que, se nossos
atos são bons e nossos pensamentos maus, apenas haverá uma falsa aparência do
bem e continuaremos a trazer em nós um foco malfazejo, cujas influências, mais
cedo ou mais tarde, derramar-se-ão fatalmente sobre nossa vida.
Retirado do Livro "O problema do ser, do
destino e da dor - Léon Denis
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