Se aproxima o momento do Ritual do Amaci.
É um rito de
fortalecimento da mediunidade através da lavagem da cabeça dos médiuns com
ervas maceradas, devidamente consagradas e propiciatórias ao fortalecimento do
sensitivo.
Estou
bastante sensível e com vontade de ficar em silêncio. Se pudesse, tiraria
uma semana de recesso das atividades profissionais e ficaria em resguardo
templário.
Reflito
sobre o que seria importante neste momento tão sagrado para nós da Umbanda.
O que
poderia dizer ou escrever que pudesse ser aproveitado por todos que estão com
os pés no chão em um terreiro, para a comunidade umbandista - tantos que
estão vestindo o branco como médiuns?!
Pensando nos
anos que já passei como zelador desde a fundação da Choupana e nas centenas de
giras de caridade que já realizamos, concluo que o grande obstáculo que
paralisa muitos médiuns é a jactância - àquele sentimento velado de
superioridade que vai se instalando de tanto escutar as queixas dos
consulentes, que anda de mãos dadas com o orgulho e a vaidade, estabelecendo
uma altivez e um senso de superioridade irreal, um certo enfado e ar de tédio.
Obviamente que tal situação já observei em espíritas, espiritualistas,
pastores, padres, bispos, teosofistas, budistas, maçons, rosa-crucianos,
apômetras,..., então atribuo este estado psíquico inerente ao ser humano.
Mas como se instala a jactância no médium umbandista?
O médium sendo consciente, o que é o estado natural da mediunidade na
atualidade, é provável que ele caia num automatismo
comodista e, inevitavelmente, nas suas reflexões examine as consciências
alheias, identificando os erros do próximo, muitas vezes opinando em questões
que não lhe diz respeito, indicando as fraquezas dos semelhantes, educando
os filhos dos vizinhos, reprovando as deficiências dos companheiros, corrigindo
os defeitos dos outros, aconselhando o caminho reto a quem passa, receitando
paciência a quem sofre, e segue resoluto retificando os defeitos de
quem o procura no centro umbandista, como se ele fosse só perfeição.
Mas enquanto
o medianeiro se distrai orientando, se distância de si mesmo, e
como aprendiz que foge à verdade e à lição, agrava a situação
enfatuando-se e sentindo-se superior aos consulentes, sempre incansáveis em
seus pedidos de ajuda, reclamações e tristezas.
Enquanto o
médium se ausentar do estudo das suas próprias necessidades e
fragilidades que fundamenta o indispensável processo de auto-conhecimento,
esquecendo a aplicação dos princípios superiores que deve abraçar na fé
viva que é mero instrumento, cheio de defeitos e imperfeições e tão frágil e
carente quanto àqueles que o procuram, será simples cego do mundo
interior relegado à treva da ilusão. Nada estará realizando, pois
locupleta-se em si mesmo e se basta, achando que está fazendo uma grande obra,
um palácio de realizações com o passar dos anos. Muitos até se gabam do tempo
de mediunidade e menosprezam os mais novos.
Claro que a
experiência acumulada ao longo dos anos dá sabedoria ao medianeiro, mas ele não
deve sentir-se melhor a quem quer que seja, pois não sabemos o passado e a
idade sideral de cada um de nós. Ou você sabe qual a idade do teu espírito?
Despertemos
e vigiemos sempre.
Mantenhamos nossas
energias mais profundas para que os ensinamentos, instruções e consolos
que passamos na forma de orientações recebidas de nossos guias espirituais aos
consulentes não seja para nós médiuns uma bênção que passa, como é
a dádiva e misericórdia divina da mediunidade que nos foi concedida,
em proveito à nossa própria retificação pelo auxilio incondicional aos
irmãos de caminhada que nos procuram, porque o infortúnio maior de um médium e
para a sua combalida alma eterna é aquele que o infelicita quando a
graça do Alto passa por ele em vão em toda uma encarnação!
Nenhuma
valia tem um rito, seus elementos e liturgias, se o médium internamente não tem
a condição necessária de recebê-lo satisfatoriamente. A aplicação
ritualística externa é feita pelo sacerdote e seus assistentes, mas a
ligação espiritual interna é de cada médium. Se assim não acontecer, o amaci
será um mero PLACEBO RITUAL, inócuo e sem efeitos positivos.
É tarefa
primeira de um zelador espiritual vigiar e "correr gira" para que a
jactância mediúnica não se instale nele ou em sua corrente.
Reflitamos!!!
Paz, saúde,
força e união.
Por Norberto Peixoto - Um
eterno aprendiz
*Jactância - s.f.
Ação, hábito de se gabar: falar com jactância. Arrogância, altivez.
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