Certo dia, Buda
reuniu todos os seus discípulos e simpatizantes para um discurso, isso era bem
comum, o iluminado homem costumava dar longos discursos, passou a vida
apresentando sua filosofia, andando por vários lugares onde as pessoas se
amontoavam para ouvi-lo. Suas palavras eram avidamente esperadas pelos
discípulos, sua argumentação era lúcida e direta sempre que necessário. Os
momentos de discurso eram sempre momentos aguardados como encontros de reflexão
em que Sidharta Gautama dava conhecimento e transmitia sabedoria a sua
comunidade.
Mas, naquele dia,
seria diferente. Estavam todos reunidos aguardando suas palavras, algo muito
semelhante ao que fazia Jesus no monte das Oliveiras, então Buda chegou com uma
flor na mão e não disse nenhuma palavra. Não era um encontro de meditação, era
um encontro de palestra, de doutrina, de ensinamentos e aprendizado, então por
que ele estava ali em silêncio com uma flor na mão? E assim permaneceu durante
horas. Seus discípulos ficaram em desconforto, tentando imaginar: o que ele
queria dizer com aquela flor? O silêncio muitas vezes faz as pessoas se
sentirem constrangidas.
Buda tinha entre seus
discípulos homens que já eram considerados mestres de outros homens antes de se
tornarem seus discípulos. Homens de mente ágil, de raciocínio lógico e ágil e
muitos deles, ao ver a flor, começaram a filosofar e racionalizar o que
representava esta flor e quais palavras poderiam explicar a presença da flor.
No entanto, houve um discípulo chamado Mahakasiapa que simplesmente sorriu e
riu, o que deixou os outros discípulos mais constrangidos ainda. Sua risada era
vista como uma falta de respeito pelos demais. Ao perceber isso, ele riu mais
ainda, ele não precisava mais de discursos e argumentações, ele sabia que, por
mais que se explique, ninguém entende o que não pode sentir. Para ele, era
inclusive uma perda de tempo tanta filosofia, quando se poderia apenas sentar e
compartilhar o que não pode ser dito.
E em meio ao silêncio
e ao constrangimento, a única coisa que se ouvia eram as risadas de
Mahakasiapa, ele não era um erudito, não era considerado um mestre, não era
filósofo e nem um argumentador, pelo contrário, era um homem muito simples e
rústico. Então Buda foi até ele e lhe entregou a flor dizendo: “Tudo que as
palavras podem dizer, eu entreguei aos outros discípulos, o que as palavras não
podem dizer, eu entrego a você!”. Acredita-se que assim nasceu o Zen Budismo,
uma forma de iluminação repentina, uma transmissão especial, que está além das
palavras, o que se alcança apenas por meio da meditação, do silêncio e da
contemplação.
A Flor representa o
amor que está além das palavras e representa a verdade última, sublime e
divina, inalcançável pela razão humana, mas que pode ser sentida e transmitida
de mestre a discípulo. Os grandes místicos se consideram amantes de Deus,
embriagados do sagrado, são homens que preferem, sempre, silenciar diante do
ignorante, ao saber que nada pode explicar o que apenas é possível sentir.
No dia 15 de Novembro
de 1908, Zélio de Moraes foi levado a uma reunião espírita, onde estavam
reunidos velhos senhores que seguiam o código de Kardec, a ciência dos
espíritos, e antes mesmo de iniciar a sessão, Zélio de Moraes afirmou: “Aqui
falta uma Flor”. Zélio vai ao lado de fora, busca uma flor e coloca na mesa,
talvez a tenha colocado dentro de um copo de água, ou dentro de uma jarra. E
mais uma vez, na história da humanidade, a flor cria desconforto e
constrangimento. Assim como o amor cria desconforto a quem não o conhece, ou
não tem a oportunidade de vivê-lo.
Enquanto a Ciência
fala por meio da razão, da lógica e da filosofia, o amor fala por meio do
sentimento, do canto e da poesia. Blaise Pascal diria que: “O amor tem razões
que a própria razão desconhece”. O amor não necessita de argumentação, o amor é
apenas para ser sentido. Por isso, não buscamos na Umbanda doutores ou
filósofos entre nossos guias; buscamos o amor do caboclo, do preto-velho, da
criança... e algo acontece quando estamos em sua presença, uma transmissão
especial acontece, algo que realmente não temos como explicar por palavras,
assim é a Umbanda. Por isso aqui não falta uma flor, que graças a Olorum, Zambi
ou Tupã, foi trazida por Zélio de Moraes.
Por Alexandre Cumino
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