Benjamin Teixeira
por um espírito anônimo.
Nesta minha atual fase de existência
intermissiva (*8), sou conduzido também pelos orientadores que estariam
trabalhando comigo, se estivesse reencarnado… Eu ainda poderia estar aí,
desencarnei qüinquagenário. Hoje, estaria quase na casa de 80 anos, já que,
conforme planejado, eu só partiria desta última existência material quando meu
corpo houvesse ultrapassado a marca dos 85 anos de idade. Vim, por Misericórdia
Divina, laborar em regiões bem baixas do umbral – como costumamos denominar, no
meio espírita, estas faixas de sofrimento purgatorial do domínio extrafísico de
vida. Tornei-me médium nesses ambientes semi-infernais, canalizando, para os
padecentes de lá, a Luz do Plano Superior, de modo a, parcialmente,
compensar-me pela fuga à minha missão, na condição de medianeiro reencarnado.
Todavia, estes trabalhos não são suficientes para o pleno ressarcimento de
minha dívida moral para com o Criador. Se houvesse enfrentado minhas provações,
corajosamente, eu poderia estar agora a anos luz de distância de onde estagio,
espiritualmente.
A dificuldade em perseverarmos nos postos de
serviço mais avançados tem a ver com a cultura em nosso ambiente espírita, e
nas tarefas religiosas como um todo, que demonstram forte tom conservador,
porque a preocupação com a moral e a espiritualidade, paradoxalmente, podem
desenvolver uma tendência ao tradicionalismo, ao reacionarismo. Mal alguém
revela a intenção de manifestar uma iniciativa de divulgação ou de renovação
das idéias ou das atividades e métodos de realização do bem (como é
imprescindível, para que acompanhemos o progresso do globo, em todos os
sentidos), espoca uma algaravia ensurdecedora, uma legião de resistências
grita, em uníssono, um veemente “não”, com múltiplas facetas (e argumentações),
puxando o idealista para baixo, pugnando por lhe abafar a voz. Isso, reitero,
ocorre em toda parte, até fora dos meios religiosos. Todo vanguardista sofre a
adversidade da retaguarda, que luta por sobreviver – esta é uma atitude muito
mesquinha, pequena, baixa, hipócrita, venal… De modo algum, condiz com a nossa
corrente de pensamento (espírita), que prima pela lucidez, pela criticidade.
Então, nós, kardecistas, devemos ser mais críticos, pois que somos
livres-pensadores. Não se justifica que se detectem, entre os próprios
confrades espiritistas, comportamentos radicais, dogmáticos, de perseguição aos
renovadores, de fixação em antigas cosmovisões, como é natural encontrarem-se
em outros agrupamentos religiosos, que não se preocupam em buscar uma abordagem
científica, nem progressista, em sua essência filosófica. Debelemos,
definitivamente, esse tipo de postura viciosa. Vamos dar contas disso depois de
desencarnar.
Façamos o esforço de… – como é que eu poderia
dizer?… (*9) – nos impermeabilizar a influências negativas, e simplesmente
voltar os ouvidos da alma para a voz da consciência, ignorando as sugestões e
padrões de sentimento ou argumentação que não estejam em consonância com essa
freqüência sublime – esta, sim, respeitável, a única inteiramente confiável: a
voz da própria consciência. Agindo desta forma, com completo decoro e rigorosa
coerência com nosso ideal e intuição, descobriremos que, apesar de nos fazermos
minoritários, no seio das comunidades de que sejamos partícipes, existem
pessoas e grupos que concordarão conosco, que partilharão dos nossos valores e
prioridades – a exemplo disso, aqui mesmo, no grupo de vocês, já ocorre esta
confortadora ressonância de propósitos elevados. Busquemos o aconchego e a
retroalimentação das almas que pensam como nós, que privam de semelhante
hierarquia de valores. Contudo, ainda que estejamos sós, jamais tergiversemos
quanto à linha do dever que nos foi delegado, para a presente existência, seja
no plano físico ou no extrafísico de Vida.
Desculpem-me ter sido um tanto prolixo, neste
meu depoimento de caráter íntimo, e, em muitos aspectos, emotivo e pessoal.
Minha intenção não foi essa, mas sim verificar, por meio de circunlóquios, se
havia verbalizado todos os tópicos imprescindíveis da grave temática, para que
– justamente pela seriedade de implicações que podem estar envolvidas na
discussão de tema tão sério, profundo, complexo, como efeito na vida de
milhares, quiçá milhões – não negligenciasse nada que me pudesse consumir a
consciência mais tarde – ela, que já está tão ulcerada. Vale considerar, no
entanto, que, por mais me esforçasse, aqui, em estender minhas colocações, não
conseguiria cobrir nem um décimo do alcance do assunto. Em vista disso, não me
preocupei em sintetizar minha exposição ou em evitar prolongamentos da minha
fala. Peço desculpas a quem terá o encargo de transcrever esta mensagem
psicofonada, por conta do trabalho que terá em fazê-lo, mas acredito que será
um empenho benemérito, pelo bem que pode ser gerado, na vida de outras pessoas,
auxiliando-as mesmo a não perderem suas encarnações.
A desencarnação é uma coisa medonha, quando
chegamos aqui, sem cumprir, em medida razoável, o que nos foi incumbido pelas
Autoridades Celestes. Meu Deus!… Como é horrendo saber que perdemos um século
de vida e que até teremos que nos organizar e reorganizar, não só
individualmente falando, mas coletivamente, aguardando um concerto de
circunstâncias, uma orquestração de planejamentos existenciais de inúmeros
outros indivíduos, com quem sejamos ligados, pelos fios místicos do carma, para
só então podermos voltar ao âmbito físico de existência e reiniciar o que
deixamos inacabado ou mal-feito. E, pior do que vários séculos serem consumidos
neste processo: é comum não termos, nunca mais, a enchança de fazer o que
realmente teríamos realizado, caso houvéssemos cumprido nossos deveres, no
tempo certo, visto que muitas obras são intrinsecamente relacionadas a
determinadas épocas e fases da evolução planetária. Por esta perspectiva,
tem-se uma pálida noção do desperdício gigantesco, do inaquilatável valor de
uma oportunidade de serviço medianímico; tão ímpar, tão grave, que é difícil
colocar em palavras… São vidas literalmente defenestradas, obras que atingiriam
milhares, milhões de pessoas, simplesmente atiradas na lata do lixo cósmico…
dos ensejos perdidos para todo o sempre… Este é um prisma de eternidade, que
muito ajuda a apreciar, apropriadamente, a importância de cada instante de vida
e contato com nossos semelhantes, que os reencarnacionistas costumam
malbaratar, pela ilusão de que se poderá fazer mais tarde o que não se faz
hoje. Sim, pode-se fazer depois… sabe lá Deus como, com quem, em que
circunstância, e, principalmente, sem que se tenha a menor idéia da avultação
de dívida e complicações cármicas que se deverão suportar…
Acredito, sinceramente, que tenha alcançado o
coração de vocês, não só em relação ao tema da mediunidade, em particular, que
foi o tópico central de meu desabafo construtivo, mas também no que pertine às
vocações de cada qual. Espero que me levem a sério, que tenham noção da extrema
gravidade e relevância do que expus. É curioso, trágico e mesmo deplorável que
a maior parte dos encarnados de hoje, na Terra, adie o mais importante de tudo,
enquanto dedica, por outro lado, atenção e tempo – a ponto de comprometer a
própria saúde – a assuntos urgentes mas não essenciais, como contas a pagar, no
final do mês, problemas familiares ou orgânicos, e todo tipo de questão
profissional ou acadêmica. Tais problemáticas são até respeitáveis;
entrementes, como se pode esquecer ou considerar em segundo, terceiro ou
centésimo plano o ouvir o próprio coração, a voz da própria consciência, a
matéria mais fundamental, entre todas. Como lecionou nosso Mestre Maior:
“Buscai, primeiramente, o Reino dos Céus e sua justiça, e o demais se vos
acrescentará.” Não precisaríamos dizer, mas vale recordar: nunca se edificará
algo de valor, que seja essencial ao próprio espírito eterno que se é, preso ao
padrão de viver no afã de atender a emergências, solucionar urgências, ou, como
se diz no popular, apagar incêndios.
Peço desculpas, pelas eventuais falhas de
raciocínio e clareza na exposição das idéias, em virtude de minhas limitações.
Mas importa registrar que me faço, nesta ocasião, porta-voz dos orientadores do
Plano Sublime. Recebo, por exemplo, inspiração da mestra maior da casa,
Eugênia, que assiste esta comunicação, pelo seu particular interesse de ver tal
depoimento divulgado em massa. Agradeço a oportunidade, a honra de ter
conseguido, quem sabe (?), ser útil, com meu testemunho pessoal, relato de um
grande desviado do próprio caminho; e espero estar, um dia, mais uma vez, entre
os prezados companheiros (sabe lá Deus quando), pelas portas da reencarnação,
reiniciando a minha parte na tarefa que hoje vocês têm a bênção de viver. Tenho
disso a amarga convicção (amarga, porque a menoscabei criminosamente): é uma
dádiva de valor inestimável, não dá para se ter idéia de quão preciosa é a
oportunidade de estar reencarnado nos dias que correm, em uma atividade
espírita, de mente aberta para o futuro, como a que aqui se desdobra. E
lamento, profundamente, notar que alguns estão entediados, ou pouco motivados,
ou quase se desligando, condenando-se ou condenando o(s) outro(s),
preocupando-se com as próprias ou as falhas alheias – coisas tão pequenas –,
enquanto há tantas realizações, tão grandes e sérias a serem desdobradas,
incontáveis vidas a serem salvas do suicídio e da loucura, das obsessões, da
angústia, da infelicidade de não saber que Deus existe, que os amigos
espirituais sempre assistem, que a prática da oração e do bem propiciam a
materialização da felicidade, na Terra mesmo, no transcurso das reencarnações…
Não fazem idéia vocês do desperdício que representa deixar de vivenciar este
ensejo bendito plenamente, de quantos invejam, desencarnados, seu lugar, de
quantas almas (na própria dimensão física), inclusive, desejam sua posição.
Muitos há que estão tropeçando em pérolas no caminho, supondo tratar-se de
pedras… Não são pedras! São pérolas! E quão ingratos somos nós, seres humanos,
dragões de egoísmo e capricho, reclamando por não se apresentar o caminhar
muito confortável, por sentirmos pedrinhas debaixo dos pés! Sim… às vezes, são
pedras mesmo… mas pedras preciosas! O ônus que pagamos é insignificante, para o
bônus de jornadear sobre gemas de infinitas bênçãos de Deus! Suspendamos a
lamúria viciosa e mórbida, e reconheçamos as graças do Ser Todo-Amor!
Extingamos, veemente, imediata e definitivamente, esta fixação blasfema e
autodestrutiva no pior ângulo da vida! Vamos abolir, de uma vez por todas, esta
loucura suicida nossa – de nós, seres humanos (mormente os ocidentais,
racionais demais) –, esta esquizoidia quase cínica de reclamarmos de tudo o
tempo todo, em lugar de agirmos mais, servirmos mais, agradecermos mais (o que
nos viabilizaria, realmente, a felicidade). Paremos de nos lamentar e ajamos… a
própria palavra “re-clamar” significa “clamar de novo”, reagir e repetir o
ineficiente. Vivamos, ao contrário, o universo revolucionário e transformador,
em três progressivas dimensões: a da ação, a da pró-ação e a da criação! As
pessoas estressam-se reagindo ao que na verdade não é inerentemente negativo, e
sim produtivo, constituindo, amiúde, um convite para o desenvolvimento de um
talento, um incentivo a uma boa ação. O que mais é foco de fúria, revolta e
desespero costuma se revelar uma experiência de finalidade construtiva,
originalmente, porque propulsora à autotranscendência do indivíduo.
Não pretendemos dizer, com isso, que as
pessoas vão deixar de sofrer tristezas, mágoas, momentos de desânimo ou mesmo
de quedas morais. Entretanto, poderíamos fazer muito mais do que nos imaginamos
ser capazes de fazer e do que de fato realizamos, no campo do bem. Somos
adultos! Tornemo-nos um pouquinho mais maduros! Não estaríamos sendo muito
caprichosos, com tanto queixume, com tanta sensação de vazio? Ao invés de
preencher esse vazio interior com lágrimas, esperando que o mundo venha
resolver nossos problemas, deveríamos preenchê-lo com sorrisos, no serviço solidário,
em nos mobilizar pelo bem comum. Quase sempre os motivos das lágrimas são
coisas risíveis, o que não temos como perceber, no momento que surgem. Todavia,
mais cedo ou mais tarde, reconheceremos não terem passado de meras ninharias.
Se, porém, nos puséssemos no empenho constante de trabalho benemerente,
dedicando-nos a auxiliar nossos semelhantes, em situação muito pior do que a
nossa, veríamos que a circunstância que se nos afigurava absurdamente injusta e
insuperável não era nada daquilo que nos parecia em princípio.
Deus os abençoe a todos. Peço-lhes escusas,
novamente, pela minha abordagem de tom muito franco (e, por isso, certamente
menos agradável), mas que se compreenda que assim o faço, porque, daqui, não
temos espaço há nenhum subterfúgio ou justificativas para nós mesmos e nossos
vícios. Quando nos ligamos ao Plano Superior, perdemos completamente o verniz
da diplomacia, da política das interações interpessoais, sobretudo ao tratar de
questões muito graves, como a que ventilamos hoje. Jesus, revirando as bancas
do templo, nos dá uma idéia de quão pouco política pode vir a ser uma mensagem
que provenha, genuinamente, do Domínio Excelso de Consciência. Minha função,
ante os prezados irmãos em ideal, não foi lhes trazer afagos emocionais (que normalmente
amolentam o caráter), mas exatamente oferecer um presente muito maior, um
sacolejo moral, a fim de que não menoscabem e percam, como eu desperdicei, esse
ensejo especialíssimo de trabalho e serviço ao próximo, oportunidade esta que
provavelmente nunca mais se repetirá, conforme agora se apresenta, na vida de
cada um de vocês. Isso bem demonstra a verdade inconteste da máxima que
assevera haver uma eternidade em cada instante. Ninguém terá como dimensionar o
que digo, a não ser chegando do Lado de Cá, tarde demais para reparar-se pelos
erros cometidos, principalmente pelas omissões permitidas. Não aguardemos
ocasiões futuras, porquanto elas podem nunca mais vir a acontecer…
Se alguém supuser que insinuo culpa ao falar
desta forma, transforme culpa em ação construtiva. É preciso se compensar pelo
tempo perdido, antes da chegada do momento crítico da desencarnação, que pode
ocorrer a qualquer hora e lugar. Sempre é tempo de a pessoa recorrigir sua
rota, duplicar, decuplicar o que poderia fazer, ressarcindo-se, assim, por suas
negligências, pedindo ajuda a Nosso Senhor Jesus, para multiplicar esses
recursos de gerar o bem. Não importa em que idade demos início ao nosso
compromisso com o bem, mas que o encetemos agora, sem mais procrastinações, sem
mais nos permitir paralisar por racionalizações falaciosas, não importando
quanto tenhamos nos equivocado ou sido omissos no passado. O que importa é
agirmos agora, porque estaremos nos posicionando a agir no futuro também, em
função desta nossa eternidade fundamental, em nome dos orientadores
desencarnados, sobremaneira dos espíritos-espíritas.
Despeço-me, pois, deixando-os com o meu voto,
muito sincero e ardoroso, de que apliquem, sistematicamente, nossa sugestão,
não ficando apenas na empolgação do momento, esquecendo-se de tudo
posteriormente, ao retornarem à rotina da vida profissional e familiar,
entregando-se aos mesmos vícios da lamúria contínua, quais se fossem crianças…
animalizadas, dementadas, a caminho de pesadelos muito maiores, na outra
dimensão de existência… enquanto as aguardam situações bem mais dolorosas, em
reencarnações muito mais difíceis, quando então terão que agradecer pelas dores
que lhes bafejarão o destino, em vez de reclamar – como hoje fazem – pela
felicidade que os beneficia. Fiquem com Deus.
(Mensagem recebida psicofonicamente, no transcurso de reunião mediúnica
fechada do Instituto Salto Quântico, em 11 de março de 2008. Transcrição de
Úrsula Rangel. Revisão de Delano Mothé.)
(*8) Período de vida, no mundo espiritual,
entre reencarnações.
(*9) Achamos correto preservar este
solilóquio do autor desencarnado, em seu ditado original, dando nota de sua
humanidade e espontaneidade, que ele primou por deixar clara, assim
demonstrando seu esforço em concatenar idéias e articular os raciocínios com o
vocábulo mais apropriado a comunicá-las, como é comum fazermos, no dia-a-dia,
todos nós, encarnados.
(Notas do Médium)
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