Um País que
não preserva sua memória, não constrói seu futuro.
Por
Douglas Fersan
No dia 02 de outubro de 2011 um
fato lamentável se tornou notícia. A prefeitura de São Gonçalo, no estado do
Rio de Janeiro, permitiu a demolição da casa onde teria sido fundada a Umbanda.
É fato que a Umbanda não possui
uma codificação ou um líder único e que, em virtude disso, muitos umbandistas
não reconhecem a manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas através do
médium Zélio Fernandino de Moraes como marco inicial da religião. Para muitos,
os rituais aos quais hoje chamamos de Umbanda já existiam antes dessa
manifestação, dada em 15 de novembro de 1908, no local referido, mas
independente de se aceitar ou não, esse evento representa um marco histórico
para nossa religião. Mesmo já existindo esses rituai s, o dia 15 de novembro
pode ser lembrado como um marco para a prática espiritualista, antes elitizada
e, a partir de então, alcançando as massas, independente da condição social ou
acadêmica.
A história já é conhecida – e
quase lendária: após esgotadas as tentativas de curar os “distúrbios” (tais
como falar de maneira arrastada, com sotaques diferentes e aparentes mudanças
de personalidade) apresentados pelo jovem Zélio, então com 17 anos, seus pais
resolvem levá-lo a um Centro Espírita, como último recurso em busca da solução
do problema. Durante os trabalhos, Zélio incorpora um espírito que se apresenta
como o Caboclo das Sete Encruzilhadas e anuncia a organização de uma nova religião
que, diferente do Espiritismo da época, não estaria restrita às elites e
abriria espaço para espíritos das mais diferentes origens trabalharem na
prática da caridade e em busca de seu progresso espiritual. Essa mesma entidade
manifestou-se no d ia seguinte, na casa situada na rua Floriano Peixoto, nº 30,
no município de São Gonçalo, onde declarou (que a Umbanda): “Será uma religião
que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos
os irmãos, encarnados e desencarnados.”
Para muitos, esse acontecimento
representa a própria fundação da Umbanda.
E é justamente essa pequena casa,
de construção humilde, que está sendo demolida, em detrimento da história que
ela representa. Independente da vertente umbandista que se segue ou de se
aceitar a história de Zélio de Moraes, todos perdemos com esse ato, pois o povo
que não preserva sua memória não investe em seu futuro, não valoriza a sua
identidade, sua cultura e deixa se perder no tempo o passado de lutas e
vitórias tão arduamente conquistadas. Fala-se tanto em tolerância religiosa,
mas não se faz o mínimo para respeitar o marco de uma religião genuinamente
brasileira. Fala-se em memória na cional, mas não se faz o menor esforço para
manter vivo o patrimônio de uma religião que se confunde com a própria
identidade brasileira.
Até mesmo fiéis de outras
religiões, numa atitude respeitosa e inteligente, lamentaram o fato, como o
Reverendo Marcos Amaral, da Igreja Presbiteriana de Jacarepaguá, que lamentou o
fato da Prefeitura de São Gonçalo ser a primeira a dar exemplo de indiferença à
religião umbandista, conforme declarado no Jornal Extra, em 05/10/2011.
Militantes umbandistas da região
estão marcando uma manifestação para o dia 07/10/2011, às nove horas da manhã,
em frente à casa, a fim de protestar e impedir a demolição do que ainda resta
da construção. Manifestar-se é o mínimo que podemos fazer.
Com certeza a Umbanda continuará
trabalhando normal e dignamente independente da demolição da casa. Os orixás e
entidades não precisam disso, estão muito acima dessas coisas mundanas, mas aos
homens, ao s encarnados, cabe o mínimo de respeito à crença alheia.
Esperamos que esse patrimônio
histórico seja preservado, mas caso isso não aconteça, continuemos avante com a
nossa caravana, independente do ladrar dos cães. O máximo que eles conseguem é
chamar a atenção para a nossa causa, pois uma casa pode ser demolida, mas a
espiritualidade jamais.
Douglas Fersan - Outubro de 2011.
É UMA VERGONHA!!! CADÊ OS POLÍTICOS QUE DEFENDEM A UMBANDA??? CADÊ O CONDU? A PREFEITA DA CIDADE DE SÃO GONÇALO É EVANGÉLICA!!! ISSO PARA ELA É UM GOLPE EM NÓS UMBANDISTAS, UM ATO DESCARADO DE DISCRIMINAÇÃO RELIGIOSA E UM CAMINHÃO DE VOTOS!!!
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