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"Em lugar da fé cega que anula a liberdade de pensar, ele diz: Não há fé inquebrantável senão aquela que pode olhar a razão face a face em todas as épocas da Humanidade. À fé é necessária uma base, e essa base é a inteligência perfeita daquilo que se deve crer; para crer não basta ver, é necessário, sobretudo, compreender. A fé cega não é mais deste século; ora, é precisamente o dogma da fé cega que faz hoje o maior número de incrédulos, porque ela quer se impor e exige a adição de uma das mais preciosas faculdades do homem: o raciocínio e o livre arbítrio." (O Evangelho Segundo o Espiritismo.)

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Sábio é aquele que a tudo compreende e nada ignora. Deus não impôs aos ignorantes a obrigação de aprender, sem antes ter tomado dos que sabem o juramento de ensinar.

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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Mandinga e Patuá


“Quem não pode com mandinga, não carrega patuá”, diz uma antiga expressão, hoje muito usada como sinônimo de outra coisa que diz: “quem não tem competência, não se estabelece”.

Comete engano quem acredita que a expressão esteja referindo a mandinga como feitiço, ebó, ‘coisa feita’, etc. Mandinga é um grupo (ou nação) africano do norte que por sua proximidade com os árabes acabou por se tornar mu­çulmano e, sendo esta uma religião fanatizante, seus adeptos têm verdadeiro ódio aos que não aceitam Alá como Deus ou Maomé como seu profeta.Com o desenvolvimento do tráfico de escravos, muitos negros mandingas vieram parar nas Américas, vítimas que foram da ambição dos brancos. Por serem os negros mandingas muçulmanos, muitos desses escravos sabiam ler e escrever em árabe, além de conhecer a matemática melhor do que os brancos, seus senhores, e este estado superior de cultura de um determinado grupo negro fez com que fossem tidos como feiticeiros, passando a expressão mandinga a sinônimo de feitiço. Por outro lado, os negros que praticavam o culto aos Orixás eram vistos como infiéis pelos negros mulçumanos. O branco, apro­veitando-se dessa rivalidade e confiando aos mandingas funções superiores que os demais, fazia a animosidade entre eles crescer. Os mandingas não eram obrigados pelos brancos a ingerir restos de carne de porco, e até mesmo permitiam que estes trouxessem trechos do Alcorão encerrados em pequenos invólucros de pele pendurados ao pescoço. Geralmente eram os mandingas quem acabava ocupando o lugar de caçadores de escravos fujões, os chamados “capitães-do-mato”. Por isso, quando um negro pretendia fugir, além de se preparar para lutar sem armas através da capoeira e do maculelê, ele deixava o cabelo carapinha e pendurava ao pescoço um patuá, de forma que pensassem tratar-se de um mandinga, para não ser perseguido. Todavia, se um verdadeiro mandinga o abordasse e ele não soubesse responder em árabe, o verdadeiro mandinga descarregaria todo seu furor nesse infeliz negro fujão. Daí nasceu a expressão “quem não pode com mandinga, não carrega patuá”. A vingança a quem se atrevesse a portar um falso objeto considerado sagrado pelo muçulmano era qualquer coisa de terrível. Mais tarde, porém, o hábito de utilizar patuás entre negros foi se generalizando, pois estes acreditavam que o poder dos mandingas era devido, em grande par te, aos poderes do patuá. Por outro lado, os padres também utilizavam, e ainda hoje utilizam, crucifixos e medalhas, Agnus Dei, etc., que, depois de benzidos, a maioria das pessoas acredita possam trazer proteção aos devotos nelas representados. Nos primeiros terreiros de Candomblé que se organizavam, era comum o pedido de patuá por parte dos simpatizantes e até mesmo por aqueles que temiam o culto afro, pois dizia-se que o patuá poderia até mesmo neutralizar trabalhos de magia negra. MAS, AFINAL, O QUE É PATUÁ? O patuá é um objeto consagrado que traz em si o Aché, a força mágica do Orixá, do santo católico ou Guia de luz, a quem ele é consagrado. Entre os católicos já era hábito usar um fragmento de qual quer objeto que houvesse pertencido a um santo ou a um papa, até mesmo fragmento de ossos de um mártir ou lascas de uma suposta cruz que teria sido a de Cristo. Até mesmo terra, que era trazida pelos cruzados que voltavam da Terra Santa e que a utilizavam nesses relicários, considera dos poderosos amuletos, que deveriam atrair bons fluidos e proteger dos azares. O nome relicário é originário de latim relicare-religar, que acabou formando a palavra relíquia. Logo o clero percebeu que não poderia impedir o uso dos patuás pelos negros, que os tiravam antes de entrar na igreja, mas voltavam a usá-los ao afastar-se de lá. Decidiram, então, substituir o patuá africano (o autêntico), que trazia trechos do Alcorão, por outro que trazia orações católicas, medalhas sagradas, Agnus Dei (uma espécie de medalha com o formato de coração, que se abre ao meio, onde se encontram as figuras de Jesus e Maria ou ainda símbolos da Igreja tradicional). Com a formação dos primeiros templos de Umbanda e a possibilidade de um contato mais estreito com diversas Entidades espirituais, as pessoas que bus­cavam proteção começaram a encontrar nesses objetos sagrados um apoio (era algo material que continha a força mágica vibratória da entidade que o trabalhara e que o crente poderia ter sempre consigo). A partir daí, as entidades de luz passaram a orientar sua elaboração, indicando quais objetos seriam incluídos na confecção do patuá e como se deveria proceder com eles para que recebessem o seu Aché, isto é, a força mágica. Os ingredientes geralmente mais utilizados para a confecção dos patuás são os seguintes: Figas de guiné; Cavalos marinhos; Olhos de lobo (raros e caros); Estrela de Salomão; Estrela da guia; Cruz de caravaca; Couro de lobo; Pêlo de lobo; Santo Antonio de guiné; Imagens de Exu e Pomba Gira da Guiné; Pontos di versos; Orações; Sementes varia das; Imãs, etc. Não nos esqueçamos que essas coisas singelas não têm nenhum valor se não forem preparadas pelas entidades incorporantes. Somente estas podem dar o Aché ao patuá.

Trechos do livro “Iniciação à Umbanda” vol. 2 – Tríade Editora de Pai Ronaldo de Linares e Diamantino Fernandes Trindade.



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