Certo dia uma pessoa que passava por algumas dificuldades foi aconselhada a se espiritualizar.
Decidido a pensar um pouco sobre o assunto, surgiu a questão: O que é se Espiritualizar?
O que devemos fazer quando ouvimos esse conselho?
Ou quando sentimos uma insatisfação inexplicável com o nosso modo de vida?
O que fazer quando as coisas da vida parecem não trazer a felicidade que esperávamos?
Não acredito que esse artigo sirva para guiar uma pessoa para sua iluminação, contudo, pelos anos que freqüento reuniões de estudo e pelo que aprendi junto aos amigos maiores que acompanho, pude reunir lições e leituras que podem ajudar no caminho daqueles que buscam "algo mais" da vida.
Explicarei o que significa se espiritualizar a partir do exemplo que me inspirou a escrever esse artigo.
Aconselhada a se espiritualizar, a pessoa em dificuldades decidiu procurar uma senhora que jogava búzios. Ela dizia não cobrar pela consulta, mas aceitava doações.
Chegando lá ela buscou verificar quais eram os problemas espirituais que influenciaram o amigo mais experiente a indicar essa busca, ou seja, se havia obsessores, ou algum tipo de "trabalho" contra ela. Revelando pormenores de sua vida pessoal, buscando conselhos para lidar com problemas do dia-a-dia.
Bom, todos nós somos imediatistas, por isso queremos resolver o problema a jato, em um dia, em uma consulta, em uma única visita.
Afastando os obsessores ou verificando que não tem nenhum a sua volta, confirmando que não foram feitos trabalhos contra você ..... PRONTO!! Resolvido o problema, podemos voltar a nossa rotina. Afinal.... se não tem obsessor e não tem trabalho... logo... eu não tenho problema espiritual!!
Pessoas que jogam tarot, búzios, ou se intitulam videntes, na maior parte das vezes, conseguem alcançar algum nível de verdade no que falam. Isso é possível através do contato espiritual com seus guias e por causa de sua larga experiência com os "problemas alheios", que não diferem muito entre si (problemas no trabalho, problemas no amor, solidão, etc) .
A sensibilidade desses irmãos existe e são médiuns, contudo, são médiuns que vendem os dons que deveriam ser distribuídos gratuitamente para todos, sem distinção de raça, poder aquisitivo ou religião.
Podemos citar os seguintes problemas nessa forma de se espiritualizar:
1º A pessoa não busca se melhorar em nada, não busca entender coisa alguma, vai a uma consulta como se fosse ao médico retirar uma verruga. Desse modo, totalmente alheia aos estudos espirituais, ela fica a mercê do que a for dito. Pior: Se a pessoa consultada fala sobre espíritos malignos e a necessidade de realizar trabalhos de desmanche, compra de oferendas e etc, a pessoa já em dificuldades, fica com medo e acaba fazendo tudo que mandam, com receio de lhe acontecer algo de ruim. Fica assim a mercê desse irmão que explora a sua falta de conhecimento.
2º Depois da primeira consulta o "cliente" se sente até bem e fica grato pelo benefício concedido. Contudo, ao menor sinal de queda ele sente a necessidade de voltar para a consulta, alegando piora no quadro.
CRIA-SE, ASSIM, UMA CORRENTE E O ANTIGO PACIENTE SE TORNA PRESA FÁCIL DOS ESPÍRITOS QUE AGORA SE ACHAM NO DIREITO DE VAMPIRIZÁ-LO. Ele busca a proteção desses espíritos (indiretamente), funciona como um "negócio espiritual".
Isso fica fácil de entender: O PACIENTE baixou a retaguarda e se entregou voluntariamente aos benefícios desses espíritos, que funcionam como AGIOTAS dos favores espirituais.
3º Essas pessoas que realizam consultas são, em sua maioria, médiuns já habituados com o fenômeno mediúnico, contudo eles se ligam a entidades de baixo padrão vibratório, que ainda estão longe do amor incondicional ao próximo.
O problema maior está na finalidade do contato. Ele é realizado com interesses secundários. Por isso, os instrutores espirituais experientes e bondosos não utilizam esse "aparelho" (como chamam os amigos da umbanda) para realizar o contato com os encarnados.
Esses médiuns atendentes possuem guias que se vincularam a eles por interesse (afinidade de sentimentos).
Esses guias são espíritos que desencarnaram e aprenderam muitas coisas sobre o "outro lado" da vida. Conhecem bem as fraquezas humanas e delas sabem tirar vantagem em seu benefício. Contudo, o amor ainda não brotou em seus corações e a vontade de servir está vinculada a interesses mesquinhos e ideais de baixa vibração.
Temos, nesse caso, a perfeita ilustração de um cego guiando outro cego.
Esses "guias" que os acompanham conseguem "saber" das coisas porque já não possuem o envoltório material, logo, conseguem acesso a quase qualquer lugar. Todavia, eles não conseguem penetrar em lares protegidos pela atitude evangélica dos donos ou centros espíritas, tendas de umbanda, etc, onde a caridade e o amor são praticados.
Na consulta eles vão falar sobre o que está acontecendo, trazendo informações sobre aqueles que rodeiam o irmão ansioso e angustiado, que a tudo ouve, interessado nas pequenas coisas da vida.
Porém, logo se vê que esses guias estão longe de ensinar o caminho da renúncia e do amor, do perdão e da compreensão, tão bem ensinados no evangelho de nosso senhor Jesus.
Bastava para aquele que vai as consultas analisar as palavras e ensinamentos, verificando se elas traduzem a humildade, o amor, o perdão e a renúncia. Palavras bonitas e frases bem feitas não conseguem expressar a beleza espiritual dos ensinamentos do grandes mestres espirituais!
4º - Os espíritos que trabalham na arte da obsessão são conhecedores das fraquezas humanas, estudam bem cada caso para ter sucesso em sua empreitada diabólica. Nos casos de obsessão complexa, realizada por falanges do mal, as entidades que guiam esses médiuns consulentes acabam se filiando, por medo ou por coação, aos caprichos dos obsessores. Nesse caso, o "diagnóstico espiritual" dado pelo "vidente" é aquele que os seus obsessores desejam.... Fica assim muito complicado resolver o problema.
No capítulo 11 (Valiosa experiência) do livro "Libertação", de Francisco Candido Xavier, pelo espírito André Luiz, é citado um exemplo que ilustra exatamente o que acontece nos casos dos "consulentes".
"...Atento à sugestão do médico amigo, no dia imediato pela manhã dispôs-se Gabriel a conduzir a esposa ao exame de afamado professor em ciências psíquicas, no intuito de conseguir-lhe cooperação benfazeja.
Pude reparar, então, que a liberdade dos homens, no terreno da consulta, é quase irrestrita, porquanto, de nosso lado, Gúbio demonstrou profundo desagrado, asseverando-me, discreto, que tudo faria por impedir a providência que somente seria profícua e aconselhável, a seu parecer, através de autoridade diferente no assunto.
O professor indicado era, segundo a opinião do nosso desvelado orientador, admirável expoente de fenômenos, portador de dons medianímicos notáveis, mas não oferecia proveito substancial aos que se acercassem dele, por guardar a mente muito presa aos interesses vulgares da experiência terrestre.
- Fazer psiquismo - falou-me o Instrutor, em voz quase imperceptível - é atividade comum, tão comum quanto qualquer outra, O essencial é desenvolver trabalho santificante. Visitar medianeiros de reconhecida competência no trato entre os dois mundos, senhores de faculdades magníficas no setor informativo, é o mesmo que entrar em contacto com os donos de soberba fortuna. Se o detentor de tão grandes bens não se acha interessado em gastar os recursos de que dispõe, a favor da felicidade dos semelhantes, o conhecimento e o dinheiro apenas lhe agravarão os compromissos no egoísmo praticado, na distração inoperante ou na perda lamentável de tempo.
....
Assumindo ares de pessoa superinteligente, comunicou ao nosso Instrutor que resolvera solicitar a neutralidade dos servos espirituais do professor operante. Com fina sagacidade asseverou que era necessário evitar a piedade do médium e confundir-lhe as observações, através de todos os recursos possíveis.
Em seguida à elucidação que me surpreendeu, rogou a presença de um dos colaboradores mais influentes e apareceu diante de nós a esquisita figura de um anão de semblante enigmático e expressivo.
Expedito, Saldanha pediu-lhe cooperação sem rebuços, esclarecendo que o operador da casa não deveria penetrar o problema de Margarida, na intimidade.
Prometia-lhe, em troca do favor, não só a ele, mas também a outros auxiliares no assunto excelente remuneração em colônia não distante. E descreveu-lhe, com largas promessa quanto lhe poderia proporcionar em regalo e prazeres no cortiço de entidades perturbadas e ignorantes, onde conhecêramos Gregório.
O serviçal manifestou indisfarçado contentamento e assegurou que o médium não perceberia patavinas.
...
O professor pôs-se imediatamente a combinar o preço do trabalho de que se encarregaria, exigindo adiantadamente de Gabriel significativo pagamento.
O intercâmbio ali, entre as duas esferas, se resumia a negócio tão comum quanto outro qualquer.
Sem detença, reconheci que o médium, se podia controlar, de algum modo, os Espíritos que se alimentavam de seu esforço, era também facilmente controlado por eles.
...
- É forçoso convir, porém, que este vidente é vigoroso na instrumentalidade. Permanece em perfeito contacto com os Espíritos que o assistem e que encontram nele sólido sustentáculo.
- Sim - confirmou o orientador, sereno -, mas não vemos aqui qualquer sinal de sublimação na ordem moral, O professor de relações com a nossa esfera, inabordável, por enquanto, ao homem comum, sintoniza-se com as emissões vibratórias das entidades que o acompanham em posição primitivista, pode ouvir-lhes os pareceres e registrar-lhes as considerações. Entretanto , isto não basta. Desfazer-se alguém do veículo de carne não é iniciar-se na divindade. Há bilhões de Espíritos em evolução que rodeiam os homens encarnados, em todos os círculos de luta, muito inferiores, em alguns casos, a eles mesmos e que, facilmente, se convertem em instrumentos passivos dos seus desejos e paixões. Daí, o imperativo de muita capacidade de sublimação para quantos se consagram ao intercâmbio entre os dois mundos, porque, se a virtude é transmissível, os males são epidêmicos.
...
Nesse ínterim, reparamos que o médium, desligado do corpo físico, se punha a ouvir, atencioso , justamente a argumentação do assalariado mais inteligente, cuja cooperação Saldanha requisitara.
-Volte, meu amigo - asseverava, jactancioso, ao médium desdobrado -, e diga ao esposo de nossa irmã doente que o caso orgânico é simples.
Bastar-lhe-á o socorro médico.
- Não é uma obsidiada vulgar? ? inquiriu o médium, algo hesitante.
- Não, não, isto não! Esclareça o problema. O enigma é de medicina comum. Sistema nervoso em frangalhos. Esta senhora é candidata aos choques da casa de saúde. Nada mais.
- Não seria lícito algo tentar em favor dela? - tornou o psiquista, sensibilizado.
O interpelado riu-se numa tranqüilidade de pasmar e rematou:
- Ora, ora, você deve saber que, individualmente, cada criatura tem o seu próprio destino. Se nosso concurso fosse eficiente, não teria gosto para tergiversações. Não há tempo a perder.
...
O vidente retomou a gaiola física, finalizando a operação simplesmente técnico-mecânica de contacto com a nossa esfera, sem qualquer resultado no capítulo de elevação espiritual que lhe melhorasse o ambiente. Abriu os olhos, reajustou-se na cadeira e informou a Gabriel que o problema seria solucionado com a colaboração da psiquiatria."
Podemos então fazer a primeira afirmação: espiritualizar-se não é fazer consulta em videntes!!!
Espiritualizar-se também não é fazer a brincadeira do copo em casa. Essa brincadeira é tão perigosa quanto as consultas. Um dia falarei desse assunto. Enquanto isso, quem desejar maiores informações sobre esse assunto pode ler o livro "Copos que Andam", de Vera Lucia Marinzeck, pela Editora Petit).
Vamos tentar, então, chegar a alguma conclusão, conforme os diferentes tipos de temperamento e opções religiosas.
Espiritualizar-se é ir à Igreja?
Ir à igreja somente para lá estar presente não é se espiritualizar. Espiritualizar-se é uma tarefa diária, um misto de estudo e busca pessoal. Se a pessoa é católica, ela pode buscar nas lições do Cristo o guia para sua vida, lendo também as fascinantes biografias dos santos, que exemplificaram de forma tão sublime os ensinamentos do Médico de nossas Almas.
Quem não se emociona com a linda história de Franscisco de Assis, que exercitou TODOS os ensinamentos do Cristo durante a sua sublime estada na terra.
Freqüentando a igreja você receberá o benefício das energias positivas que lá são irradiadas, bem como o auxílio de espíritos que lá atuam.
Contudo, a intensidade do benefício recebido é diretamente proporcional ao estado daquele que busca ser ajudado, sendo imprescindível sua vontade de melhorar!!!
Espiritualizar-se é freqüentar centros espíritas e tomar passe? O centro espírita possui um trabalho mais OSTENSIVO em relação à ajuda espiritual. Temos também outro aspecto, se a pessoa freqüenta um lugar como esse é porque acredita no outro lado da vida. Isso facilita no auxilio espiritual.
Nos centros espíritas os médiuns conversam, nas tendas umbandistas os pretos velhos e caboclos pacientemente ensinam. São dadas palestras e dificilmente somente o passe é recebido.
Tudo aquilo que é ouvido vai para o arquivo mental e os espíritos tudo fazem para influenciar na reforma interior. Porém, somente no recôndito do coração é que pode ser verificado se ocorre ou não a espiritualização. Ela está mais vinculada à mudança interior do que o lugar freqüentado.
Espiritualizar-se é fazer trabalhos de caridade?
Aqueles que ajudam são ajudados. No pão, no carinho ou no estudo dado àqueles que nada têm, a alma se eleva e se purifica no ato de amor ao próximo.
Contudo, se espiritualizar é "dar com a mão direita sem que a esquerda saiba", isto é, fazer sem pedir nada em troca. É não ter orgulho ou vaidade do que faz. É fazer por fazer, é ajudar porque erguer o irmão que sofre é tão importante quanto se alimentar ou trabalhar.
Espiritualizar-se é fazer Tai Chi Chuan, Meditar ou fazer Yoga?
A meditação é, sem dúvida, o caminho para o encontro. Aqueles que conseguem se abster do pensamento e buscar Deus, encontram uma felicidade diferente.
Meditação exige disciplina, mudança de hábitos, melhora interior. Meditar somente está longe de se sentar e ficar parado. Buscar a meditação é buscar se espiritualizar. Não é o único caminho, mas é um deles.
Concluindo: para os católicos, espiritualizar-se significa se evangelizar, para os budistas, é iluminar-se, para os espíritas é purificar-se. Modificam-se as palavras e os ensinamentos, mas o objetivo é o mesmo. Caminhemos então juntos, ajudando sempre, que não tardará a transformação de cada um e do ambiente a nossa volta.
Espiritualizar-se, enfim, é buscar de qualquer forma libertar-se das ilusões temporárias da vida, renunciando ao Irreal para viver na plenitude da Realidade do espírito.
Acredito também ser muito importante estudar as doutrinas espiritualistas. O espiritismo tem uma base muito sólida e todos que o "buscam" deveriam ler o "Livro dos Espíritos", de Alan Kardec.A leitura dessa maravilhosa obra evita os erros básicos e a mistificação, tão bem exploradas por ele.
Se a maioria dos que vivem aqui, junto de nós, aceitassem a Lei do Karma e a Reencarnação, acredito que as coisas seriam diferentes.
O espírito que aceita essas duas leis básicas já se prepara para a vida maior, melhorando-se continuamente, sem agressão, porque sabe que o amanhã existe, e ele é conseqüência do hoje, e o hoje é conseqüência do ontem.
Haverá um dia em que a espiritualização não terá mais o rótulo religioso. Os filósofos, os cientistas, os artistas, todos buscarão a espiritualização com as suas respectivas "tendências", não mais competindo, somente completando.
Os templos serão erguidos para os adeptos afins com a "forma" de se encontrar com Deus e todos se respeitarão mutuamente, porque sabem que se encontraram no topo da montanha, onde o Cristo aguarda a todos nós.
Espiritualizar-se também é respeitar todas as formas de expressão da divina presença.
Paz a todos os que sofrem, Amor a todos que odeiam e Solidariedade para amparar a todos que não tem força para caminhar sozinhos.
Gustavo Martins
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