A presença de Mãe Maria se faz sentir cada vez mais fortemente entre nós, seja por meio de um resgate histórico da atuação das mulheres em nosso planeta, seja pela atuação da mãe de Cristo a partir do plano espiritual.
Por Rosana Felipozzi
A história nos conta capítulos de um cristianismo escrito pelos homens. Mas, e as mulheres? Onde estão os relatos de suas vidas?
Até hoje, desconhecemos muitos acontecimentos envolvendo grandes mulheres que acompanharam, viveram e atuaram brilhantemente durante a passagem de Jesus na Terra. Se houve um tempo em que não era interessante saber o que essas histórias podem nos revelar, em nossos dias podemos sondar, pesquisar e até contar livremente aquilo que ficou oculto, por ser tão importante.
Alguns poderão perguntar: “Mas por que deveríamos nos ater especificamente à vida das mulheres? A questão feminina ou das diferenças sexuais teriam relevância diante da espiritualidade?”
Porém, ocorre que em nossa condição humana somos regidos pela Lei de Causa e Efeito e, a cada encarnação, ainda estamos cumprindo nossos compromissos num programa bem elaborado no qual a escolha sexual é uma das grandes alavancas para a conquista evolutiva.
Em “O Livro dos Espíritos”, no capitulo IV, Pluraridade das Existências, nas questões 200 a 202, Kardec nos responde sobre o sexo dos espíritos. Esta é realmente, uma questão bastante delicada e polêmica porque grande parte da humanidade está inserida nessa condição; ora encarnando no sexo masculino, ora no feminino. No entanto, há uma certa negligência com relação ao assunto, talvez provocada por crenças bastante vívidas em nós, mas que não condizem com os ensinamentos fornecidos pelos espíritos a Kardec, ou mesmo por total falta de observação da própria realidade enquanto espíritos.
Para muitos, a crença num Deus/Pai masculino é entendida ao pé da letra e não como uma força superior, a inteligência suprema, causa de todas as coisas. Sendo Deus a causa, não está sujeito aos efeitos, pois comanda as leis que nos regem.
As questões do masculino e feminino somente deveram interessar a todos nós, espíritos encarnados, pois necessitamos integrar esses dons.
Diante desse grau de consciência, podemos desenvolver melhor os dons e atributos femininos necessários a um espírito encarnado num corpo de mulher, o mesmo ocorrendo com os homens.
Pouco compreendemos as relações existentes entre a sexualidade e a espiritualidade, o sagrado, o profano, o que foi ocultado daquilo que é real e verdadeiro sobre esses assuntos. Talvez, ao repensarmos essas questões sob uma óptica mais profunda, estejamos também ampliando nosso entendimento sobre as relações humanas, sociais, religiosas e até mesmo políticas.
Entender o amor de uma forma mais pura e o que o refinamento e a pureza espiritual, porém verdadeiramente proporcionar às nossas personalidades, também ajudará a minimizar as diferenças de gênero, cor ou qualquer outro fator restritivo, possivelmente aproximando-nos pela observação, aceitação e vivência dessas diferenças.
Sem abandonarmos os preconceitos que há muito não condizem com a necessidade evolutiva da Terra, não seremos capazes de decidir pelo amor.
A imagem de Maria como uma grande mulher, a representante máxima dos dons e atributos femininos – dos quais conhecemos apenas uma parte – precisa ser resgatada, e seu papel, revisto. Se desejarmos ardentemente a nossa evolução e a do planeta, podemos começar por uma reflexão sobre a “escolhida” para ser a mãe de um grande ser de luz, aquele que nos ensinou o caminho do amor. Provavelmente, nós nos surpreendemos, pois há muito mais a ser conhecido sobre ela.
Rever a vida de Maria e todo o ensinamento contido em suas atuações poderá trazer à tona tudo o que nos foi subtraído por séculos a respeito do sagrado feminino.
Será que, ao conhecimento melhor sua vida, não a estaremos tornando mais humana, mais próxima, onde certamente ela gostaria de estar?
Uma boa sugestão de leitura sobre alguns aspectos da vida de Maria e seu trabalho na espiritualidade, é o livro “Maria – Mãe de Jesus” (FAE Editora). A começar pela capa, exibindo retrato de Maria – ditado pelo mentor espiritual Emmanuel ao fotógrafo Vicente avelã, através do médium Chico Xavier – todo o conteúdo nos aponta passagens desconhecidas de sua volta ou conhecida por muito poucos.
Os textos e mensagens reunidos pelo organizador Edison Carneiro são psicografias feitas por Chico Xavier; algumas informações foram extraídas do livro “Memórias de um Suicida” , de Yvonne A. Pereira; e ainda alguns relatos coletados no “Evangelho de Lucas”- considerado pelos espíritos como textos que, apesar das inúmeras traduções e transcrições, chegaram ao nosso tempo com uma parcela mínima de erros e distorções.
A maioria das descrições da vida de Maria, verdadeiros quadros verbais, são de autoria do espírito Humberto de Campos, alguns, do espírito Emmanuel, além de poemas de outros espíritos.
Logo em suas primeiras páginas lemos que “Maria é um dos espíritos mais puros que foram dados à humanidade conhecer”
Assim, seria interessante entender o que Kardec, no “Livro dos Espíritos”, nos informa a respeito da ordem a que pertencem os espíritos puros e quais são suas características. No livro segundo, em “Mundo espírita ou dos espíritos”, cap I, ele diz que os espíritos puros fazem parte da primeira ordem dos espíritos e têm como caracteres gerais a superioridade intelectual e moral absoluta, em relação aos espíritos das outras ordens, não sofrendo mais nenhuma influência da matéria.
Pertencem à primeira classe – classe única – na qual os espíritos percorrem todos os graus da escala e se despojaram de todas as impurezas da matéria, havendo atingido a soma das perfeições de que é susceptível a criatura. Não tendo mais provas nem expiações a sofre, não estando mais sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis, vivem a vida eterna, que desfrutam no seio de deus. Gozam de uma felicidade inalterável, porque não estão sujeitos ás necessidades ou vicissitudes da vida material. Essa felicidade ressalta Kardec, não é a de uma ociosidade monótona, vivida em contemplação perpétua. Eles são mensageiros e os ministros de Deus, cujas ordens executam para a manutenção da harmonia universal. Dirigem a todos os espíritos que lhes são inferiores, ajudam-nos a se aperfeiçoar e determinam suas missões. Assistem os homens nas suas angústias, incitam-nos ao bem e ajudam-no a expiar suas faltas.
Kardec também nos clareia o entendimento afirmando que os espíritos puros são por nós designados pelos nomes de anjos, arcanjos ou serafins, e podemos nos comunicar com eles, porém sem a presunção de tê-los constantemente sob nossas ordens.
Um período histórico bastante interessante e do qual praticamente não temos notícia por fontes oficiais, é aquele após a separação dos discípulos, ao se dispersarem por lugares diferentes para a difusão das mensagens de Cristo, ou melhor, da Boa Nova.
Nessa ocasião, Maria se retirou para a cidade de Batanéia, onde alguns parentes mais próximos a esperavam com especial carinho.
Segundo Humberto de Campos, “para aquela mãe amorosa, cuja alma digna observa que o vinho generoso de Cana se transformou no vinagre do martírio, o tempo assinalava sempre uma saudade maior no mundo e uma esperança cada vez mais elevada no céu”.
“Sua vida era uma devoção incessante ao rosário imenso de saudade, ás lembranças mais queridas. Tudo que o passado feliz edificara em seu mundo interior revivia na tela de suas lembranças, com minúcias somente conhecidas do amor, que lhe alimentavam a seiva da vida”.
Após esse tempo passado em Batanéia, informa-nos Humberto de campos que Maria aceita o oferecimento feito por João, filho de Zebedeu, de irem morar em Éfeso (cidade da Lídia, na costa ocidental da Ásia Menor).
João nunca esqueceu as observações que o Mestre lhe havia feito na cruz. Sua responsabilidade com respeito à Maria e o título de filiação recebido como prova das mais altas expressões de amor universal, sempre o acompanharam.
Humberto de Campos também relata que em Éfeso, as idéias cristãs ganhavam terreno, o que encheu de ânimo e entusiasmo tanto João quanto Maria.
Morando em Éfeso ambos firmaram uma associação de interesses espirituais. A casa de João, com a chegada de Maria, se transformou num ponto de assembléias adoráveis, nas quais as recordações do Messias eram cultuadas por espíritos humildes e sinceros. Enquanto Maria externava suas lembranças em sua choupana, que se tornou conhecida pelo nome de “Casa da Santíssima”, João pregava na cidade.
Durante sua permanência em Éfeso, Maria recebeu a visita de Paulo de Tarso. Emmanuel nos fala um pouco dessa visita: “Paulo visitou a mãe de Jesus na sua casinha singela, que dava para o mar. Impressionou-se fortemente com a humildade daquela criatura simples e amorosa, que mais se assemelhava a um anjo vestido de mulher.”
“Paulo de Tarso interessou-se pelas suas narrativas cariciosas, a respeito da noite do nascimento do Mestre, gravou no íntimo suas divinas impressões e prometeu voltar na primeira oportunidade, a fim de recolher os dados indispensáveis ao Evangelho que pretendia escrever para os cristãos do futuro”.
“Maria colocou-se à sua disposição, com grande alegria”.
“O projeto deste evangelho continuou a ser alimentado, mas dificultado pelas viagens constantes do apóstolo”.
“Estando preso na Cesaréia, Paulo resolveu encarregar Lucas da redação”.
Valendo-se das informações de Maria, a biografia de Jesus foi então escrita. Lucas, o médico amigo, se incumbiu de escrever o velho projeto de Paulo, satisfazendo-lhe integralmente o desejo, nos informa Emmanuel. Por isso o evangelho de Lucas é também conhecido como o “Evangelho de Maria”.
Retornando aos relatos de Humberto de Campos temos:
“A Igreja de Éfeso exigia de João a mais alta expressão de sacrifício pessoal, pelo que, com o decorrer do tempo, quase sempre Maria estava só, quando a legião humilde dos necessitados descia o promontório desataviado, rumo aos lares mais confortados e felizes os dias, as semanas, os meses e aos anos passaram incessantes (...)”
“A velhice não lhe acarretara nem cansaços nem amarguras. A certeza da proteção divina lhe proporcionava ininterrupto consolo”.
Durante essa fase, Humberto de Campos nos revela que Maria, ao receber notícias de Roma, sobre as dolorosas perseguições impostas a todos os que fossem fiéis à doutrina, agora chamada de cristã, entregou-se às orações como de costume, pedindo a Deus por todos aqueles que se encontrassem em angústias, por amor de seu filho.
Enlevada em suas meditações, Maria viu se aproximar o vulto de um pedinte. Nesse momento, afirma Humberto de campos, Maria ouviu: “Minha mãe – exclamou o recém-chegado, como tantos outros que recorriam ao seu carinho – venho fazer-te companhia e receber a tua benção”.
Após convidá-lo a entrar e muito impressionada com aquela voz, sentiu-se emocionada e tocada por aquelas palavras. O hóspede anônimo lhe estendeu as mãos e falou: “Minha mãe, vem aos meus braços!”
Nesse instante, Maria fitou suas mãos e viu nelas as chagas, como as que seu filho revelava na cruz. Num ímpeto de amor, fez um movimento para se ajoelhar. Ele, porém, levantando-a, ajoelhou-se aos seus pés e, beijando suas mãos, lhe disse: “Sim, minha mãe, sou eu! Venho buscar-te, pois meu pai quer que sejas no meu reino a Rainha dos Anjos.”
Humberto de Campos nos diz que, após esse acontecimento, Maria cambaleou, querendo manifestar sua felicidade e agradecimento, mas seu corpo havia sido paralisado. Enquanto isso, aos seus ouvidos chegavam os ecos suaves da saudação do anjo.
No dia seguinte, dois portadores humildes desciam a Éfeso, de onde regressaram com João, para assistir os últimos instantes da Mãe Santíssima.
Quanto ao trabalho executado por Maria no plano espiritual, destacamos alguns trechos expostos no livro e que foram descritos pela médium Ynonne A. Pereira em “Memórias de um Suicida” , através do espírito Camilo Castelo Branco, destacado escritor português do século 19 que tendo cometido suicídio, foi socorrido amorosamente pela Legião dos Servos de Maria.
Segundo suas lembranças no Vale dos Suicidas, Camilo descreve: “Uma região de muitas dores do plano espiritual que abriga aqueles que tentaram por fim à própria vida...”
Ele nos conta que o cenário desse vale é de criaturas disformes, tanto homens quanto mulheres, caracterizados pela alucinação. Uma povoação envolvida em densos véus de penumbras, gélida e asfixiante, onde se aglomeram os habitantes de além-túmulo. Porém, mesmo em lugar tão terrível, assevera Camilo, a misericórdia de Deus se manifesta. Periodicamente, recebiam a visita de uma singular caravana. Era como a inspeção de alguma associação caridosa.
Ele diz que esse grupo procurava aqueles entre os presentes cujos fluidos vitais, arrefecidos pela desintegração completa da matéria, permitissem locomoção para as camadas do invisível intermediário, ou de transição.
Senhoras faziam parte dessa caravana. Além delas, conta Camilo, um pequeno pelotão de lanceiros formava uma coluna, como batedores de caminhos, um cordão de isolamento contra quaisquer hostilidades que pudessem surgir. Um oficial comandante erguia uma flâmula na qual se lia em caracteres azul-celeste “Legião dos servos de Maria”.
Camilo afirma também que se passaram anos até que, finalmente, teve condições de ser socorrido e transferido para o Hospital Maria de Nazaré. Primeiramente, o comboio os encaminhou durante algum tempo, a um conjunto de muralhas, como as velhas fortificações medievais, até que parou em frente a um grande portão, que seria a entrada principal da Colônia Correcional.
Surpreso, tanto Camilo quantos seus companheiros entraram em uma cidade movimentada. Edifícios, ministérios públicos ou departamentos, casas residenciais bem como indivíduos – atarefados e uniformizados com longos aventais brancos, ostentando ao peito a cruz celeste com as iniciais LSM -, eram avistados.
Ao serem convidados a descer ao departamento de vigilância, continua Camilo, foram reconhecidos e matriculados pela direção como internos da Colônia. Daquele momento em diante, estariam sob a tutela direta de uma das mais importantes agremiações, pertencentes à legião chefiada pelo grande espírito Maria de Nazaré.
Nas viaturas, iguais a leves trenós ligeiros e confortáveis, puxados por cavalos e com capacidade para dez passageiros, foram levados ao departamento hospitalar. Novos letreiros indicavam, a direita, o manicômio, e a esquerda, o isolamento. Camilo e seus companheiros ingressaram pela entrada central, onde se podia ler: Hospital Maria de Nazaré.
Atravessaram imenso parque, colunas, arcadas, torres e terraços repletos de flores. Árvores frondosas e aves mansas entre outras tantas maravilhas que faziam parte dessa região.
Além do hospital, a legião dos filhos de Maria mantém também no plano espiritual outras instituições; uma delas é a Mansão da Esperança. Essa instituição é, na verdade, uma cidade universitária, segundo nos esclarece Camilo. É um local onde ciclos de estudos e aprendizagem são ensinados nas escolas.
Lá, ele recebeu ensinamentos de moral, filosofia, ciência, psicologia, pedagogia, cosmogonia e até um novo idioma, o qual será futuramente o idioma que estreitará as relações entre os homens e os espíritos.
Para finalizar Camilo nos informa que em todas essas instituições se reconhece o amor maternal de Maria. Nelas, não a encontraremos com freqüência em corpo espiritual, porque sua presença portentosa distrairia os obreiros de suas obrigações rotineiras. Mas a cada passo, em cada processo, nos menores detalhes, a sua influência e as suas orientações estão presentes.
Revista Espiritismo e Ciência – Numero 38 – Mythos Editora
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