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Fé Racional

"Em lugar da fé cega que anula a liberdade de pensar, ele diz: Não há fé inquebrantável senão aquela que pode olhar a razão face a face em todas as épocas da Humanidade. À fé é necessária uma base, e essa base é a inteligência perfeita daquilo que se deve crer; para crer não basta ver, é necessário, sobretudo, compreender. A fé cega não é mais deste século; ora, é precisamente o dogma da fé cega que faz hoje o maior número de incrédulos, porque ela quer se impor e exige a adição de uma das mais preciosas faculdades do homem: o raciocínio e o livre arbítrio." (O Evangelho Segundo o Espiritismo.)

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Sábio é aquele que a tudo compreende e nada ignora. Deus não impôs aos ignorantes a obrigação de aprender, sem antes ter tomado dos que sabem o juramento de ensinar.

Nenhum mistério resiste à fragilidade da Luz. Conhecer a Umbanda é conhecer a simplicidade do Universo.



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quarta-feira, 6 de julho de 2011

Monoteísmo, Politeísmo e Panteísmo na Umbanda

A Umbanda é uma religião brasileira, cujas raízes históricas antecedem ao marco do mito fundador construído em torno de Zélio Fernandino de Morais. De fato, houve um período de transição no qual começaram a surgir elementos típicos da Umbanda nos cultos originais de ascendência africana, ameríndia e européia. As manifestações de espíritos ancestrais por meio da mediunidade de incorporação marcou a passagem dos cultos de nação para aquilo que viria a se compor como o movimento umbandista. Com o surgimento de espíritos de caboclos, pretos-velhos, exus e outros, modificaram-se os valores originais daquelas culturas ao mesmo tempo que se aproximaram as tradições por meio do sincretismo. O resultado foi a constituição de um sistema de crenças brasileiro de caráter peculiar, tanto em termos de práticas litúrgicas como da metafísica ou cosmologia. Uma das singularidades da Umbanda se encontra na forma de enxergar as hierarquias divinas.

De modo geral, há duas formas de espiritualidade: a teísta e a não-teísta. Embora alguns advoguem o respeito às diferenças alegando que "todas religiões são boas porque acreditam no mesmo Deus", a verdade é que existem grupos não-teístas como os budistas (portanto, sem um deus) e grupos que são essencialmente politeístas ou panteistas e que merecem o mesmo respeito que as religiões de origem abrâmica. Além disso, existem escolas ou seitas dentro das grandes religiões que adotam posturas diferentes no que diz respeito às divindades.

Com o risco de pecar por excesso de generalização, podemos dizer que do cristianismo recebemos uma herança eminentemente monoteísta, dos africanos somos tributários de um caráter politeísta e dos indígenas adquirimos uma visão da natureza que pode ser associada a um panteísmo.

O monoteísmo significa a crença em um único Deus, de caráter supremo e onisciente. Das religiões abrâmicas encontramos no islamismo o melhor exemplo de monoteísmo, já que não há adoração a ninguém mais a não ser para Allah. O cristianismo parte já de uma visão plural da divindade, no sentido de que temos o Deus-Filho e o Espírito Santo ao lado de Deus-Pai, constituindo o mistério da Santíssima Trindade. Particularmente, o catolicismo apostólico romano atribui a espíritos humanos desencarnados uma posição especial com poderes espirituais específicos e uma adoração na forma da plêiade de santos tão próximos das culturas populares. Tais práticas foram descartadas pelas igrejas protestantes.
Os cultos de nação africanos, sejam de origem iorubá quanto banta, expressam um conjunto de deuses criadores e sustentadores da natureza que são denominados Orixás, Voduns ou Inquices, de acordo com a tradição. Alguns entendem que tais cultos sejam verdadeiramente politeístas, enquanto muitos adeptos das religiões africanas afirmam serem monoteístas pelo fato de existir um deus supremo ou melhor dizendo, um deus criador, chamado Olodumare, Olorun ou Zamby Apongy. Todavia, a categoria que melhor expressa a prática dos cultos africanos é a de religiões "henoteístas". Nesse grupo estão as religiões que admitem a existência de várias divindades, mas que adotam uma única como objeto de devoção. Essa era justamente a forma como se reverenciava os Orixás nas cidades-estados africanas. Como exemplo, citamos o culto a Xangô em Oyó, o culto a Oxossi em Ketu ou o culto a Yemanjá em Abeokutá.

Dentre as várias teogonias e cosmogonias das nações indígenas brasileiras, tanto do Tronco Tupy quanto do Macro-Jê, veremos muitas maneiras de contato com o Sagrado e chama a atenção a presença dos encantados que revela uma tendência panteista na assimilação dos seres naturais, humanos ou animais, pelo universo do Sagrado.

No surgimento da Umbanda encontramos a fusão harmônica dessas múltiplas perspectivas. O aparecimento de entidades espirituais como mediadoras desse encontro de culturas foi instrumental no processo do sincretismo e favoreceu uma transição no tempo e no espaços para as várias formas de acepção da divinidade. Embora como resultante constatemos que a Umbanda reconhece o Sagrado desde sua origem imanifesta até sua concretização mais palpável na natureza e ainda desvele o caráter sagrado do próprio ser humano, fomos por esse motivo mesmo vítimas de preconceito e segregação. O etnocentrismo próprio das culturas dominantes impôs sobre todas as culturas que não eram monoteístas os rótulos de "religiões primitivas" e de "culturas atrasadas".

Atualmente vemos novamente a Umbanda reavivando as discussões acerca do Sagrado e uma importante síntese foi proposta por F. Rivas Neto, fundador da FTU - Faculdade de Teologia Umbandista, com o título de "A Vertente Una do Sagrado".
De acordo com o ilustre sacerdote umbandista, existiria uma estrutura básica para a teogonia da maioria das religiões que demonstram uma funcionalidade como abaixo descrita:
1.   Divindade Suprema ou Realidade Última
2.   Potestades Divinas (inclui os Orixás, os Arcanjos e demais seres primordiais)
3.   Ancestrais Ilustres (seres humanos divinizados)
4.   Humanidade
5.   Natureza

    Como a Umbanda é uma "unidade aberta", nas palavras de F. Rivas Neto, esses conceitos não são definitivos e têm sido continuamente explorados e aprofundados. Enquanto subsistem as noções de sagrado e de profano, a religião umbandista avança na expectativa de ampliar a compreensão do sagrado e unir essa ponte.

             Por Roger Taussig Soares - professor da FTU-Faculdade de Teologia Umbandista

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