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Fé Racional

"Em lugar da fé cega que anula a liberdade de pensar, ele diz: Não há fé inquebrantável senão aquela que pode olhar a razão face a face em todas as épocas da Humanidade. À fé é necessária uma base, e essa base é a inteligência perfeita daquilo que se deve crer; para crer não basta ver, é necessário, sobretudo, compreender. A fé cega não é mais deste século; ora, é precisamente o dogma da fé cega que faz hoje o maior número de incrédulos, porque ela quer se impor e exige a adição de uma das mais preciosas faculdades do homem: o raciocínio e o livre arbítrio." (O Evangelho Segundo o Espiritismo.)

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Sábio é aquele que a tudo compreende e nada ignora. Deus não impôs aos ignorantes a obrigação de aprender, sem antes ter tomado dos que sabem o juramento de ensinar.

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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Ramatis e a Umbanda


O texto abaixo foi publicado em Novembro de 2008, no Jornal de Umbanda Sagrada em sua edição comemorativa dos 100 anos de Umbanda.
 Ramatis é o nome da entidade, de origem oriental, que psicografava por Her­cílio Maes, tinha uma proposta espírita/kardecista, no entanto por abordar ques­tões como a Magia (Magia de Redenção), a Vida no Planeta Marte, a Vida de Jesus (O Sublime Peregrino) e a Umbanda tornou-se um autor polêmico no meio espírita, aceito apenas por adeptos menos ortodoxos. É o mesmo caso da obra de Rochester, na pena da médium russa Wera Krijanowskaia, final do séc. XIX, que enfren­ta a mesma polêmica por adentrar o mundo do fantástico e da magia.
 Assim como hoje a obra de Robson Pinheiro enfrenta a mesma polêmica em seus meio de origem, este mesmo espiritismo, por abordar Umbanda e também algumas realidades mais “baixas”, nas faixas vibratórias chamadas de trevas em seus títulos publicados pela Editora Casa dos Espíritos (Tambores de Angola, Aruanda, Legião e outros.).  
No Livro dos Espíritos Kardec é claro no que se refere a magia como vemos abaixo:
551. Pode um homem mau, com o auxilio de um mau Espírito que lhe seja dedicado, fazer mal ao seu próximo?
“Não; Deus não o permitiria.”
         553. Que efeito podem produzir as fórmulas e prática mediante as quais pessoas há que pretendem dispor do concurso dos Espíritos?
“O efeito de torná-las ridículas, se pro­cedem de boa-fé. No caso contrário, são tratantes que merecem castigo. Todas as fórmulas são mera charlatanaria. Não há palavra sacramental nenhuma, ne­nhum sinal cabalístico, nem talismã, que tenha qualquer ação sobre os Espíritos, porquan­to estes só são atraídos pelo pensamento e não pelas coisas materiais.”
a)         – Mas, não é exato que alguns Espí­ritos têm ditado, eles próprios, fór­mulas cabalísticas?
“Efetivamente, Espí­ritos há que indicam sinais, palavras es­tranhas, ou prescrevem a prática de atos, por meio dos quais se fazem chamados conjuros. Mas, ficai certos de que são espíritos que de vós outros escarnecem e zombam da vossa credulidade.”

Se para o Espiritismo radical estes autores não se enquadram inteiramente na codificação de Kardec, onde a magia é colocada de lado, no entanto foram lidos e apreciados por umban­distas, que sempre buscaram explicações para sua religião e sua magia á luz do Espiritismo.
Numa outra oportunidade podemos analisar a magia de Ramatis e Rochester, aqui va­mos buscar algumas conside­rações de Ramatis sobre a Um­banda na obra Missão do Espi­ritismo, concluída em 1967, onde tece elucidações sobre o Espiri­tis­mo em comparação com ou­tras religiões e filosofias. O maior de todos os capítulos é justamente dedicado a Umbanda, com 69 pá­ginas (Rio de Janeiro: Ed. Livraria Freitas Bas­tos, 1996). Vejamos al­gumas destas conside­ra­ções feitas por Ramatis lembrando que ele escreve à partir de sua época, médium e con­texto:
      A Umbanda é como um grande edifício sem controle de condomínio, onde cada inquilino vive a seu modo e faz o seu entulho! Em conseqüência, o edifício mostra em sua fachada a desor­ganização que ainda lhe vai por dentro! As mais excêntricas cores decoram as ja­nelas ao gosto pessoal de cada mora­dor; ali existem roupas a secar, enfeites exóticos, folhagens agressivas, bandei­ras, cortinas, lixo, caixotes, flores, vasos, gatos, cães, papagaios e gaiolas de pás­saros numa desordem ostensiva. De­bruçam-se nas janelas criaturas de toda cor, raça, índole, cultura, moral, condição social e situação econômica, enquanto ainda chega gente nova trazendo novo acervo de costumes, gostos, tempera­mentos e preocupações, que em breve tentam impor aos demais.
Malgrado a barrafunda existente, nem por isso é aconselhável dinamitar o edifício ou embargá-lo, impedindo-o de servir a tanta gente em busca de um abrigo e consolo para viver a sua expe­riência humana. Evidentemente, é bem mais lógico e sensato firmar as diretrizes que possam organizar a vivência provei­tosa de todos os moradores me comum, através de leis e regulamentos formulados pela direção central do edifício, e destinados a manter a disciplina, o bom-gosto e a harmonia desejáveis! (p.130-132)
É provável que alguns entendidos do hermetismo egípcio e da escolástica hindús pretendam provar que a atual doutrina umbandística provenha diretamente do sentido original e iniciático de Umbanda, como a “Lei Maior Divina” subentendida nas velhas iniciações. Mas a ver­dade é que entre os africanos, a sonância de tal palavra nada tinha de iniciática ou signi­ficação de legislação cósmica; porém, abrangia a vulgari­dade das práticas mediúnicas feti­chistas , no intercâmbio  ritua­lís­tico com espíritos primários e elementais da natureza, assim como toda sorte de sortilégios, crendices e cultos aos mortos!
(...) Assim, as relações mediúnicas com espíritos de índios, caboclos, pretos e congêneres, nas prá­tica ritualísticas dos ter­reiros e conhecidas como de Umbanda, só significam seita, doutrina ou movimento religioso com atividades mediúnicas de origem africana, num sen­tido exclusiva­mente benfei­tor e oposto ao que se presume ser Quimbanda!
Apesar do louvável empenho dos umbandistas em atribuírem a origem de sua seita a fontes iniciáticas do Egito, da Caldéia ou da Índia, o certo é que a dou­trina de Umbanda, atualmente praticada no Brasil, deriva fundamentalmente do culto religioso da raça negra da velha África. Os seus princípios doutrinários não se vin­culam à magia ou escolástica de qualquer ramo iniciático ou bastardo das religiões e cultos egípcios, hindus, caldaicos, assírios ou gregos. Eles são realmente frutos do “folclore”, dos provérbios, aforismos, das lendas, crenças populares, canções e tradições do negro africano. O vínculo do negro persiste implacável, apesar da penetração do branco e das tentativas dos ocidentais considerarem a Umbanda uma seita exclusivamente originária de antigas confrarias do Oriente.(p.136)
Indubitavelmente, a Umbanda, como seita, ainda não passa de uma aspiração religiosa algo entontecida , mas buscando sinceramente uma forma de elevada representação no mundo. Não apresenta uma unidade doutrinária e ritualística conveniente, porque todo “terreiro” adota um modo particular de operar e cada chefe ou diretor ainda se preocupa em mono­polizar os ensinamentos pelo crivo de convicção ou preferência pessoal. Mas o que parece um mal indesejável, é conse­qüência natural da própria multiplicidade de formas, labores e concepções que se acumulam prodigamente no alicerce fundamental da Umbanda!
Aqueles que censuram essa insta­bilidade muito própria da riqueza e variedade de elementos formativos umbandísticos, são maus críticos, que devido à facilidade de colherem frutos sazonados em numa laranjeira crescida, não admitem a dificuldade do vizinho ainda no processo de semeadura!(p.130)
(...) Apesar dessa aparência doutri­nária heterogênea, existe uma estrutura básica e fundamental que sustenta a integridade da Umbanda, assim como um edifício sob a mais flagrante anarquia dos seus mora­dores mantém-se indestrutível pela garantia do arcabouço de aço!
Da mesma forma, o edifício da Um­ban­da, na Terra, continua indeformável em suas “linhas mestras”...(p.131)
(...) Os mentores da Umbanda, no momento, preocupam-se em eliminar as práticas obsoletas , ridículas, dispersivas e até censuráveis, que ainda exercem os umbandistas alheios aos fundamentos e objetivo espiritual da doutrina. Sem dú­vida, uns adotam excrecências inúteis e abu­sivas no rito e características doutri­nárias de Umbanda, por ignorância, alguns por ingenuidade e outros até por vaidade ou interesse de impressionar o público! Inúmeras prática que, de inicio, serviram para dar o colorido doutrinário, já podem ser abolidas em favor do progresso e higienização dos “terreiros”!(p.132)
Esta é a palavra de Ramatis, direta e franca sob o seu ponto de vista, escrito na década de 60, ainda hoje encontramos muito o que ele critica na postura do umbandista e faço crer que estamos caminhando para uma melhora no sentido de entender o que é e como praticar a Umbanda.
      Muito provavelmente não vamos caminhar para uma unidade doutrinária de Umbanda, no entanto é possível caminharmos para uma conscientização do que é a pratica de Umbanda.
O Consenso da data de 15 de No­vembro de 2008 como centenário da Umbanda já apresenta um grande progresso, pois possibilita remontar a história material da Umbanda no Brasil, independente de suas origens culturais, espirituais e míticas. Já não se fala mais em seita ou movimento umbandista, a Um­banda é uma religião concreta, nova e brasileira.
Assim como o cristianismo tem vários segmentos cristãos (Catolicismo, Luteranismo, Metodista, Presbiteriano, Pentecostal etc.) a Umbanda também tem linhas doutrinárias variadas que muitas vezes se definem como Umbanda Branca, Umbanda Esotérica, Umbanda Trançada, Umbanda de Caboclo e outras, no entanto existe o que Ramatis chamou de estrutura básica e fundamental que sustenta a integridade da Umbanda que é em si a essência da Umbanda, onde se alicerçam os estudos Teológicos de Umbanda como ponto de partida ou paradigma para entender suas várias, outras, expressões.

A fonte deste texto é: Jornal de Umbanda Sagrada, comemorativo dos 100 anos de Umbanda. Ano 9, Edição 102, Novembro de 2008, página 15.

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