A Linha Branca de Umbanda e Demanda está perfeitamente enquadrada na doutrina de Allan Kardec e nos livros do grande codificador, nada se encontra susceptível de condená-la.
Leal de Souza, intelectual e escritor de origem espírita “kardecista”, tornou-se médium orientado por Zélio de Moraes e, também, o primeiro autor umbandista, com o título O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda, 1933, onde encontramos um capítulo inteiro (capitulo 31) onde defende a origem espírita da Umbanda.
Coloco abaixo apenas algumas passagens deste texto para apreciação do leitor, e faço algumas considerações ao final:
O Kardecismo e a Linha Branca de Umbanda
Por Leal de Souza
A Linha Branca de Umbanda e Demanda está perfeitamente enquadrada na doutrina de Allan Kardec e nos livros do grande codificador, nada se encontra susceptível de condená-la.
Cotejemos com os seus escritos os princípios da Linha Branca de Umbanda, por nós expostos no "Diário de Notícias", edição de 27 de novembro de 1932...
(...) Os protetores da Linha Branca de Umbanda se apresentam com o nome de caboclos e pretos, porém, freqüentemente, não foram nem caboclos nem pretos.
Allan Kardec, a página 215 de O Livro dos Espíritos, ensina:
"Fazeis questão de nomes: eles (os protetores) tomam um, que vos inspire confiança".
Mas como poderemos, sem o perigo de sermos mistificadores, confiar em entidades que se apresentam com os nomes supostos? Allan Kardec, a página 449 de O Livro dos Espíritos, esclarece:
"Julgai, pois, dos Espíritos, pela natureza de seus ensinos... Julgai-os pelo conjunto do que vos dizem; vede se há encadeamento lógico em suas idéias; se nestas nada revela ignorância, orgulho ou malevolência; em suma,se suas palavras trazem todo o cunho de sabedoria que a verdadeira superioridade manifesta. Se o vosso mundo fosse inacessível ao erro, seria perfeito, e longe disso se acha ele".
Ora, esses espíritos de caboclos ou pretos, e os que como tais se apresentam, pela tradição de nossa raça e pelas afinidades de nosso povo, são humildes e bons, e pregam, invariavelmente, sem solução de continuidade, a doutrina resumida nos dez mandamentos e ampliada por Jesus...
(...) O objetivo da Linha Branca é a prática da caridade e Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo proclama repetidamente que "fora da caridade não há salvação".
A Linha Branca, pela ação dos espíritos que a constituem, prepara um ambiente favorável a operosidade de seus adeptos. Será isso contrário aos preceitos de Allan Kardec?
Não, pois vemos, nos períodos acima transcritos, que os espíritos familiares, com ordem ou permissão dos Espíritos Protetores, tratam até de particularidades da vida íntima.
No mesmo livro, a página 221-222, lê-se:
"525. Exercem os espíritos alguma influência nos acontecimentos da vida?".
"Certamente, pois que te aconselham."
"- Exercem essa influência, por outra forma que não apenas pelos pensamentos que sugerem, isto é, tem ação direta sobre o cumprimento das coisas?".
"Sim, mas nunca atuam fora das leis da natureza".
Assim, os caboclos e pretos da Linha Branca de Umbanda, quando intervém nos atos da vida material, em benefício desta ou daquela pessoa, agem conforme os princípios de Allan Kardec.
Na Linha Branca, o castigo dos médiuns e adeptos que erram conscientemente é o abandono em que os deixam os protetores, expondo-os ao domínio de espíritos maus.
Na página 213 de O Livro dos Espíritos Allan Kardec leciona:
"496. O espírito, que abandona o seu protegido, que deixa de lhe fazer bem, pode fazer-lhe mal?".
"Os bons espíritos nunca fazem mal. Deixam que o façam aqueles que lhe tomam o lugar. Costumais então lançar a conta da sorte as desgraças que vos acabrunham, quando só as sofreis por culpa vossa".
E adiante, na mesma página:
"498. Será por não poder lutar contra espíritos malévolos que um Espírito protetor deixa que seu protegido se transvie na vida?".
"Não é porque não possa, mas porque não quer".
A divergência única entre Allan Kardec e a Linha Branca de Umbanda é mais aparente do que real.
Allan Kardec não acreditava na magia, e a Linha Branca acredita que a desfaz. Mas a magia tem dois processos:
O que se baseia na ação fluídica dos espíritos, e esta não é contestada, mas até demonstrada por Allan Kardec. O outro se fundamenta na volatilização da propriedade de certos corpos, e o glorioso mestre, ao que parece, não teve oportunidade, ou tempo, de estudar esse assunto.
(...) ...a sua insignificante discordância com a Linha Branda de Umbanda desaparece, apagada por estas palavras transcritas do "Livro dos Espíritos", páginas 449-450:
"Que importam algumas dissidências, divergências mais de forma do que de fundo? Notai que os princípios fundamentais são os mesmos por toda a parte e vos hão de unir num pensamento comum: o amor de Deus e a prática do bem"
E o amor de Deus e a prática do bem são a divisa da Linha Branca de Umbanda.
(Revista Espírita)
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