Ativismo na Umbanda
1.
Ser ativo ou passivo na Umbanda
A
Umbanda é uma religião onde todos são tratados e reconhecidos como iguais,
independente da raça, sexo, condição social, espécie, entre outros, e
principalmente, é formada por pessoas “ativas”, que se dispõem como
voluntários, sem medir esforços para o desenvolvimento espiritual e ajuda ao
próximo.
Ser
composta por membros ativos permite que a Umbanda seja feita por todos os
interessados da comunidade onde ela está inserida, quebrando ainda mais as
barreiras de preconceitos e exclusão da sociedade.
Porém,
passado certo tempo na religião, algumas pessoas questionam que “se sempre foi assim, o que é que eu posso
fazer?”. Nesse caso há uma inversão nos papéis dessas pessoas onde deixam
de ser ativas para se tornarem passivas, ou seja, aceitam tudo o que outros
dizem ou se tomam a base que está formada no terreiro como verdadeira e
imutável, perdendo o interesse na busca por novas informações e bloqueiam o
desenvolvimento da Umbanda local.
Afinal,
o que “posso fazer?”.
Estudar
mais, procurar respostas, questionar os guias, questionar outros sacerdotes e
tentar encontrar meios que respondam as perguntas que eliminariam essa
conformidade!
Outro
fator importante da Umbanda é que não há heresia na religião! Questionar tudo
leva ao conhecimento e à evolução, e a Umbanda permite e deve evoluir
juntamente com todos os seus membros, pois só assim caminhará lado a lado com a
sociedade.
2. Macumba
Então
os verdadeiros umbandistas são ativos, questionadores e pesquisadores. E são
macumbeiros?
Depende
do que definimos como “macumba”.
Há
várias explicações de muitos estudiosos e escritores de religiões sobre a
origem da palavra macumba, mas a que é mais aceita por muitos é de que macumba
é um instrumento musical de uma tribo africana.
Mas
certa igreja, vendo que muitos de seus adeptos começavam a se interessar pelos
batuques das senzalas, e com medo de diminuir seu séquito, resolveu criar a
ideologia de que aquilo que era praticado pelos negros era diabólico, e
associou as palavras africanas mais fortes com satanás, como por exemplo, a
palavra Exu passou a ser o próprio anjo do mau, e macumba, que substituía a
palavra ebó, que era a oferenda aos Orixás.
O
que mais chocava, e ainda choca, as pessoas em um ebó, ou “macumba”, é quando
há animais mortos. Há sempre a impressão de que houve tortura para com o
animal. Se tiver tortura e cadáver, faz parte do demônio, como pensam a
maioria.
Por
outro lado, essa mesma igreja pegou as palavras Umbanda, Candomblé e Quimbanda
e colocou-as em um liquidificador, misturou tudo, e jogou aos quatro ventos de
que era a mesma coisa. Outras igrejas desprovidas de dogmas e por não ter o que
dizer, assumiram isso como verdade e adotaram a idéia, chegando escrever até
livros sobre o assunto.
Encontramos
umbandistas que acham que isso é verdade, de tão boa que a propaganda foi
feita.
Para
deixar claro, teoricamente a Umbanda não faz o sacrifício animal em seus
rituais, mas assim como há muitos candomblés que também não o praticam em seus
rituais, há umbandistas que o praticam.
Logo,
o umbandista não é macumbeiro que faz um ebó com animal. Mas é macumbeiro
quando utiliza vários instrumentos musicais em seus rituais, incluindo a
verdadeira macumba, instrumento parecido com um reco-reco.
3.
Ser ou não ser afro
Se
a igreja juntou a Umbanda, o candomblé e a Quimbanda como se fosse uma religião
só, há algo que as interliga?
Há
quem diga que o fato dessas três religiões utilizarem nomes de Orixás africanos
elas podem ser chamadas de “afro-brasileiras”, daí a ligação.
Vejamos
bem, no caso da Umbanda, que é uma religião originada de uma mistura entre
alguns rituais de povos africanos, da igreja católica romana, do espiritismo
kardecista francês e ritual indígena brasileiro, e principalmente sobre a
orientação dos guias espirituais, tornando-a a mais brasileira de todas as
religiões, é mais conveniente intitulá-la de brasileira do que afro-brasileira.
O
prefixo afro remete a toda África, continente que possui milhares de
povos e tribos com vários rituais e deuses, muito diferente do que é seguido e
praticado na Umbanda.
Para
reforçar a idéia de que a Umbanda não é afro, notemos que os nomes dos Orixás
vieram de várias tribos de regiões diferentes do continente africano, nomes que
foram somados ao conhecimento e união de escravos de várias tribos numa mesma
senzala, ou posteriormente com a união de escravos de várias senzalas. Muitas
tribos adoravam apenas um ou outro desses Orixás e nenhuma adorava a mesma
sequência que a Umbanda ou o Candomblé, por exemplo. Há outras tribos que
desconheciam por completo esses Orixás e usavam outros nomes ou deuses. Algumas
tribos praticavam ritual onde envolvia humanos em sacrifícios. Havia ainda, em
uma tribo ou outra, ritual onde era feito sacrifício animal toda vez que
ocorria uma sessão religiosa.
Dizer
que a Umbanda é afro é aceitar que ela permita em seu dogma um pouco de tudo o
que há na África, o que não é verdade, pois apenas uma pequena parcela de
ritual africano é que é utilizado.
Mas
para muitos, a Umbanda é afro-brasileira, e neste caso é desconsiderado o
restante dos rituais da África. As parcelas do ritual católico, francês,
indígena brasileiro e espiritual são ignoradas nessa definição, senão
poderíamos definir como religião afro-ítalo-franco-ameríndia-brasileira.
E
tem mais. Por ser considerada afro-brasileira, dizem que a Umbanda é irmã de
outras religiões afro-brasileiras, como o Candomblé, por exemplo, e por isso,
deve haver uma parceria de uma para com a outra.
4. Respeito e
apoio
Por
ser religião, a Umbanda deve ter e manter respeito por todas as religiões.
Todas sem exceção. Independente de ser ou não afro, a questão de
irmandade pode ou não ser considerada, mas o que devemos ter em mente é:
respeito é diferente de apoio.
Apoiar
algo é aprovar o mesmo, e desde que não fira os dogmas da religião é louvável
se, além da parceria, há o apoio por outra religião.
Para
ilustrar a diferença entre respeito e apoio, tomemos como exemplo um caso
recente (novembro/2010) onde o prefeito Barjas Negri de Piracicaba, vetou a lei
proposta pelo vereador Laércio Trevisan Jr., de proibição do uso de animais em
rituais religiosos. (veja mais em: http://www.tribunatp.com.br/modules/news/article.php?storyid=7405).
Se
a lei fosse sancionada pelo prefeito, abrir-se-ia precedente para que outras
cidades proibissem o uso de animais em rituais religiosos, prejudicando
diretamente o Candomblé, que é quem utiliza os mesmos em seus rituais.
Se
a Umbanda é preservação da natureza, é paz e amor, é respeito por todas as
formas de vida, e não utiliza animais em seus rituais, não faz sentido a
Umbanda apoiar o Candomblé nesta suposta vitória com o veto do prefeito de
Piracicaba.
Apoiar,
neste caso, remete a Umbanda a aceitar que animais sejam imolados por outras
religiões, quebrando assim as bases que contradizem o mesmo.
Neste
caso, a posição que deveria ser assumida pelos umbandistas seria: respeitamos o
Candomblé com seus rituais, mas não apoiamos o veto do prefeito de Piracicaba e
não vemos motivos para comemoração, pois quem sai perdendo são os animais, que
são sagrados para a Umbanda.
Simplesmente
apoiar o veto e dizer que isso é uma vitória das religiões afro-brasileiras
é assumir a posição passiva da Umbanda, e se conformar: se sempre foi assim, o
que eu posso fazer?
5. Porque a
Umbanda respeita os animais
Segundo
o filósofo Mário Sérgio Cortella “nós somos mortais e todos os outros
animais são imortais, pois os seres humanos são os únicos que tem a consciência
de que vai morrer, pois quando não há a consciência não existe o fato para
aquele que não o sabe. O animal vive cada dia como se fosse o único e o ser
humano vive cada dia como se fosse o último”.
Infelizmente,
por se achar o ser mais inteligente do nosso planeta, o ser humano acredita ser
o único que possui espírito, e o resto é criação divina para servir ao bem
estar do homem.
Tendo
ou não consciência de sua existência, sabendo ou não reconhecer-se em um
espelho, tendo ou não inteligência para solucionar problemas complexos, os
animais sentem dor, medo, fome, frio, alegria, ansiedade, entre tantos
sentimentos iguais aos sentimentos humanos. Se há sentimento, há espírito. Se
há espirito, neste caso temos a irmandade entre humanos e animais.
Se
o espírito humano é mais ou menos evoluído que o espírito do animal não cabe
neste texto.
Se
os animais possuem espírito eles merecem o mesmo respeito que os humanos.
A
Umbanda respeita toda a criação divina. Sejam humanos, animais, plantas, água,
ar, etc., tudo merece respeito.
Acreditar
que o ser humano é o centro da criação divina vai contra os ensinamentos dos
guias espirituais que dizem que todos os seres são iguais. Os animais não foram
criados para a subserviência do homem.
Se
somos iguais, se possuímos espíritos, se temos a mesma importância na criação
divina, qual é a diferença do sacrifício animal do sacrifício humano?
Não
há.
Matar
um bode para utilizar seu sangue pode ser considerado o mesmo que matar uma
criança para o mesmo objetivo.
O
que alegam os responsáveis pelo sacrifício é a dificuldade em conseguir o
sangue para o ritual, aparentemente necessário para se conseguir axé e
energias.
O
que a Umbanda faz é substituir o sangue animal pelo sangue vegetal em seus
rituais sem perder o axé e poder. O sangue vegetal pode ser o sumo de plantas
ou o mel, por exemplo.
Assim
como há várias “umbandas”, onde uma ou outra faz o uso do sangue animal, há
candomblés que não fazem o uso do mesmo, como exemplo, há o Candomblé Verde http://verdesfolhas.blogspot.com/.
6.
Mudanças na Umbanda
A
Umbanda é uma grande religião formada por vários segmentos e vários pensadores
e estudiosos que delineiam seus caminhos, sem um órgão centralizador, e por
isso não possuem heresias em seus fundamentos.
Questionar
os dogmas da religião pode levar a evolução, o que trás melhorias, axé e forças
para todos.
Ao
trocar o axé animal pelo axé vegetal, não houve perda de axé no ritual
umbandista, houve aumento de axé, pois foi substituído a dor e sofrimento de um
animal pela força e energia contidas nas plantas e ervas.
Há
terreiros que estão substituindo o marafo dos Exus por água de coco.
Substituiu-se
o fumo industrializado com substancias tóxicas, por mistura de ervas naturais.
São
pessoas ativas que buscam soluções e melhorias. São essas pessoas que
questionam os porquês de cada coisa, buscam respostas e ajudam na evolução da
Umbanda.
Umbanda
repensada, questionada e estudada, é uma Umbanda que evolui e respeita a
criação divina, respeita os seres humanos, os animais e as plantas.
Se
sempre foi assim, quero saber por que, se puder irei mudar, melhorar e ajudar.
Por:
Newton Carlos Marcellino
Umbanda é... Religião, Brasileira, Caridade, Caminho, Fé, Respeito, Cristã, Viva, Salve, Saravá... Umbanda é Amor!
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