A Umbanda é ou não Cristã?
Bem, existem aqueles que defendem a idéia de que a
Umbanda não poderia ser cristã, pois esta seria uma religião baseada nos cultos
afros. Dentro da visão desses irmãos, apesar do respeito que demonstram, Jesus
Cristo é apenas uma figura simbólica, relacionada através do sincretismo criado
pelos negros ao Orixá Oxalá, naqueles tempos em que a Coroa Portuguesa, através
do poder da Igreja, impunha aos escravos sua fé trazida da Europa. E aí, com o
passar do tempo e com a associação dos cultos afros ao espiritismo e ao próprio
catolicismo, teria nascido a Umbanda no Brasil.
Já os que defendem a idéia da Umbanda como um culto
cristão, baseiam-se principalmente nas palavras do Caboclo das Sete
Encruzilhadas que em 15/11/1908 informou aos presentes que estava iniciando
ali, um novo culto, chamado Umbanda, onde espíritos de negros e índios poderiam
praticar a caridade. Disse também que esta nova religião trabalharia baseada
nos Evangelhos de Cristo e que teria como Mestre Supremo: Jesus.
Então, como poderíamos saber qual corrente tem mais
razão. Vejamos:
Estamos no início do século XXI, mais precisamente
em 2006 (118 anos depois da Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel). Porque
então os umbandistas continuam com a imagem de Cristo no local mais alto do
congá? Afinal de contas não existe mais feitor, sinhozinho ou capitão-do-mato.
Nem a perseguição policial que ocorria no início do século XX. Mas estamos lá,
ajoelhando, orando e pedindo diante de Sua imagem. Simples, porque no íntimo da
grande maioria dos filhos de fé, Cristo é sem dúvida, o Ser de maior expressão
espiritual que passou neste orbe. Não bastasse isso, é extremamente comum
observarmos nossas Entidades, em especial os Pretos-Velhos, clamando forças a zin
Nosso Sinhô Jesus Cristo. Teriam esses Guias de Luz, medo do sinhozinho? Ou
da Igreja Católica? Não, claro que não. Eles pedem a Jesus com imenso respeito
e devoção, assim como rogam aos Orixás, pois sabem que assim poderão nos
conduzir à trilha que nos leva ao Pai. Além dos Vovôs e Vovós, isso é muito
fácil de se perceber numa gira de baianos ou boiadeiros, que rogam a Nosso
Senhor do Bonfim e a Bom Jesus da Lapa. Até quando tratamos com Exus de Lei,
estes demonstram um respeito e um carinho especial ao “Nazareno”. Alguns
o chamam até de “o Coroado” e se mostram satisfeitos em ter enxergado a
importância em trabalhar baseado nos ensinamentos d’Ele.
Se não bastasse isso, existe um sem-número de
pontos cantados que nos remetem à figura do Messias... “Abre a porta ó gente,
que aí vem Jesus, e ele vem cansado com o peso da cruz...”, “Preto-Velho quando
vem, ele vem aos pés da cruz, vem trazendo proteção para os filhos de Jesus...”
“Jesus nasceu, padeceu e morreu...”, “Seu cavalo corre, sua espada reluz, sua
bandeira cobre todos filhos de Jesus...”, entre outros.
Sem contar as preces utilizadas, inclusive o Pai
Nosso Umbandista, baseado no Pai Nosso ensinado pelo Mestre há 2000 atrás.
Quanto à relação da Umbanda a outros segmentos,
notamos forte influência católica e kardecista (ambas religiões cristãs),
somada a cultura e fé afro (influência dos espíritos de negros escravos e de
ex-participantes destes cultos que vieram a se tornar umbandistas).
Respeitando a visão de todos os filhos desta linda
religião, porém, baseado nessas e em outras tantas questões que poderiam ser
formuladas, somadas ainda às palavras do Caboclo das Sete Encruzilhadas, particularmente
creio sim numa Umbanda CRISTÃ, universalista e cheia de fé nos Orixás, Guias e
Protetores Espirituais.
O objetivo do texto não é criar polêmicas ou
discussões, até porque seriam em vão, já que cada pessoa tem o direito de
pensar e acreditar no que quiser, mas apenas de colocar alguns pontos que às
vezes passam despercebidos mesmo durante os debates. E, além disso, tenho a
certeza de que, acreditando N’Ele ou não, Jesus ampara a todos, assim como os
Orixás, que independente até do credo da pessoa, estão sempre abertos a
trabalhar em prol da caridade.
Que o Mestre Jesus Cristo, chamado carinhosamente
por nós de Pai Oxalá, nos cubra com Vosso Manto Sagrado, envolvendo-nos com as
energias que Ele traz do Pai Universal - Deus (ou Zambi, Olorum, Tupã,...).
Texto de
Sandro da Costa Mattos
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