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Fé Racional

"Em lugar da fé cega que anula a liberdade de pensar, ele diz: Não há fé inquebrantável senão aquela que pode olhar a razão face a face em todas as épocas da Humanidade. À fé é necessária uma base, e essa base é a inteligência perfeita daquilo que se deve crer; para crer não basta ver, é necessário, sobretudo, compreender. A fé cega não é mais deste século; ora, é precisamente o dogma da fé cega que faz hoje o maior número de incrédulos, porque ela quer se impor e exige a adição de uma das mais preciosas faculdades do homem: o raciocínio e o livre arbítrio." (O Evangelho Segundo o Espiritismo.)

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Sábio é aquele que a tudo compreende e nada ignora. Deus não impôs aos ignorantes a obrigação de aprender, sem antes ter tomado dos que sabem o juramento de ensinar.

Nenhum mistério resiste à fragilidade da Luz. Conhecer a Umbanda é conhecer a simplicidade do Universo.



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quarta-feira, 23 de maio de 2012

Um Pouco de Cultura Cigana

 
No passado, nós, ciganos éramos conhecidos como os "senhores da estrada". Andávamos de um lugar para outro, atravessando rios e florestas.

Percorríamos a Índia inteira, chegando ao Oriente Médio, para depois retornar. Atravessávamos reinos inimigos entre si. Para se ter uma idéia, só o Rajastão era dividido em pelo menos cem pequenos reinos.

Nós dispúnhamos de um salvo-conduto especial para atravessar uma determinada região. É que todo mundo precisava do nosso trabalho. 
De fato, transportávamos mercadorias, servíamos de "correio" para as longas distâncias e éramos também os banqueiros dos grandes senhores - podíamos comprar ouro e trocá-lo por bens de consumo ou dinheiro.

Muitas vezes, o ouro e os objetos preciosos não eram carregados por nós em nossas longas viagens. Preferíamos enterrar tudo em lugares secretos.

No momento certo, sabíamos qual caixa-forte abrir para fazer os nossos negócios.

Nunca fizemos guerra. Como outros clãs, durante uma guerra, podíamos ser recrutados para ajudar um determinado exército, mas nunca para o combate.

Ficávamos na retaguarda, prestando às tropas todo tipo de serviço necessário. Em caso de derrota, nada sofríamos, porque todos reconheciam o nosso valor social.

Outras atividades importantes sempre foram a música, a dança, a acrobacia e o teatro nas cortes dos reis ou para os soldados.

Hoje, vocês podem encontrar-nos aos milhões em periferias anônimas, pobres, às vezes miseráveis. Dignidade suficiente, porém, não nos falta, numa sociedade que mudou muito desde os tempos em que nós, ciganos, éramos reis das estradas. Éramos os Banjaras (ciganos músicos e dançarinos).M

as , aproveito para lembrar de outros clãs:

Os Hakkipikki – caçadores do centro sul da Índia;

Os Gadha Lohar – que trabalham com metais;

Os Rabari – pastores de ovelhas, cabras e camelos;

Os Korwas – fabricantes de pulseiras, colares e coroas;

Os Kalibilias, os Nat e os Bopas – dançarinos, músicos, acrobatas de circo.

Estes são os verdadeiros nomes dos clãs que deram origem às pessoas que no futuro seriam chamados de ciganos.

Conforme vimos acima, “cigano” é um termo genérico surgido na Europa do Século XV.

Nós, no entanto, costumamos usar autodenominações completamente diferentes. E hoje, costumamos distinguir três grandes grupos:

Os ROM, ou Roma, que falam a língua romani; são divididos em vários sub-grupos, com denominações próprias, como os Kalderash, Matchuaia, Lovara, Curara entre outros; são predominantes nos países balcânicos, mas a partir do Século XIX migraram também para outros países europeus e para as Américas;

Os SINTI, que falam a língua romani-sintó são mais encontrados na Alemanha, Itália e França, onde também são chamados Manush;

E os CALON ou KALÉ, que falam a língua caló, “ciganos ibéricos”, que vivem principalmente em Portugal e na Espanha, onde são mais conhecidos como gitanos, mas que no decorrer dos tempos se espalharam também por outros países da Europa e foram deportados ou migraram inclusive para o Brasil.

Estes grupos e dezenas de sub-grupos, cujos nomes muitas vezes derivam de antigas profissões (Kalderash = caldeireiros; Ursari = domadores de ursos, entre outros) ou procedência geográfica (Moldovaia, Piemontesi,entre outros.), não apenas têm denominações diferentes, mas também falam línguas ou dialetos diferentes.

Os ciganos Rom, e entre eles em especial os Lovara, Matchuaia e os Kalderash, costumam auto-classificarem-se como ciganos “autênticos”, chamando a todos os outros clãs de “falsos ciganos”.

Mas como se isto não bastasse alguns clãs ciganos ainda se discriminam mutuamente, também, por outro motivo: os ciganos sedentários muitas vezes olham com desprezo para os ciganos nômades, dizendo: eles persistem nessa vida “primitiva”, enquanto os nômades acusam os sedentários de terem abandonado as tradições, e com isto terem deixado de ser ciganos.

Ao chegarmos na Europa, no início do Século XV, nós, ciganos, podíamos ainda ser identificados através de nossa aparência física, sendo a característica mais marcante a nossa pele escura. Hoje isto já não é mais possível. Casamentos com não-ciganos sempre ocorreram, de modo que em muitos países hoje, nós fisicamente, não nos distinguimos da população gadjé (não-cigana) nacional. Ciganos “racialmente puros” hoje não existem mais em canto algum do mundo, e do ponto de vista da Antropologia, nunca existiram, porque nunca existiu uma “raça” exclusivamente classificada como cigana. Ou um país, cujo habitante fosse denominado de cigano. Impossível, portanto, identificar os ciganos através de características físicas peculiares ou estabelecer “critérios biológicos de ciganidade”.

Classificar como “verdadeiros ciganos” todos aqueles que falam um dos vários dialetos romani, também não adianta, porque muitos ciganos já não o falam mais e outros o dominam muito mal, ou até já o esqueceram por completo.

Quanto à suposta autenticidade Kalderash, Lowara e Matchuaia , afirmo como antropólogo, lingüista e cigano que é inadmissível a distinção entre “verdadeiros ciganos”, aos quais se atribuem uma origem exótica e riqueza cultural, e “os outros”. Ou seja: não existem ciganos autênticos e falsos ciganos: existem apenas Rom, Sinti e Calon, que possuem inúmeras autodenominações, que falam centenas de dialetos, que têm os mais variados costumes e valores culturais, que são diferentes uns dos outros, mas que nem por isso são superiores ou inferiores uns aos outros.

Em comum, todos, nós, ciganos, temos apenas uma coisa: uma longa História de Espiritualidade, de Arte, de perseguição, de discriminação pelos não-ciganos , em todos os países por onde passamos, desde o nosso êxodo do norte da Índia até ao aparecimento na Europa, no início do Século XV. 


Fonte: http://www.gitano.baro.com.br/

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