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"Em lugar da fé cega que anula a liberdade de pensar, ele diz: Não há fé inquebrantável senão aquela que pode olhar a razão face a face em todas as épocas da Humanidade. À fé é necessária uma base, e essa base é a inteligência perfeita daquilo que se deve crer; para crer não basta ver, é necessário, sobretudo, compreender. A fé cega não é mais deste século; ora, é precisamente o dogma da fé cega que faz hoje o maior número de incrédulos, porque ela quer se impor e exige a adição de uma das mais preciosas faculdades do homem: o raciocínio e o livre arbítrio." (O Evangelho Segundo o Espiritismo.)

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sábado, 6 de novembro de 2010

A Espiritualidade nos Animais

 
Todos os animais nascem iguais perante a vida e têm os mesmos direitos à existência. (Artigo 1º. da Declaração Universal dos Direitos do Animal, proclamada na UNESCO em 15 de outubro de 1978) 

O espiritismo retirou da mediunidade todo o aparato místico e sobrenatural que sempre a cercou desde a Antiguidade, dignificou a mulher colocando-a lado a lado com o homem, atribuindo-lhe direitos que sempre lhe foram negados e resgatou a dignidade dos animais, situando-os em um processo evolutivo onde o princípio inteligente, “do átomo ao arcanjo”, se elabora e se autoconstrói.

Na cultura ocidental os animais não têm transcendência, não têm alma a ser salva ou condenada. Nunca tiveram o direito à imortalidade, atributo exclusivo dos seres humanos. De um lado a ciência, que rejeita as emoções e a espiritualidade e de outro, a religião, que não aceita a sua transcendência e nega aos animais o direito à vida pós-morte.

Já para o espiritismo os animais possuem uma alma, um princípio inteligente ou espiritual individualizado, que reencarna, evolui, progride e traz em si mesmo, como todo princípio inteligente, as potencialidades intelecto-morais e psíquicas vindouras.

O espiritismo não aceita a metempsicose — a reencarnação dos espíritos em corpos animais — mas considera que há um fio evolutivo de continuidade entre o reino animal e o hominal, chamado pelo cientista espírita francês Gabriel Delanne de Evolução Anímica.

Gustave Geley, pensador metapsíquico, simpatizante do Espiritismo, escreveu uma obra magistral, Do Inconsciente ao Consciente, onde chama a alma dos animais de Dinamopsiquismo Essencial, que entra em um processo evolutivo que ele denominou de Evolução Dínamo-Genética, conceito que o sociólogo espírita portenho Manuel S. Porteiro aplicou na compreensão dos processos históricos à luz do espiritismo.

Para o espiritismo, “os animais, também compostos de matéria inerte e igualmente dotados de vitalidade, possuem, além disso, uma espécie de inteligência instintiva, limitada, e a consciência de sua existência e de suas individualidades”. (O Livro dos Espíritos, questão 585).

Segundo a filosofia espírita, a evolução humana se inicia no nível da simplicidade moral e da ignorância intelectual, mas é antecedida por estágios evolutivos nos reinos inferiores da criação, do mineral às plantas, das plantas aos animais e dos animais ao reino hominal. Como dizia Léon Denis, o espírito dorme no mineral, sonha no vegetal, se agita no animal e acorda no reino hominal.

“Querem uns que o homem seja um animal e outros que o animal seja um homem.” Animal é animal, homem é homem. “Os animais não são simples máquinas, como supondes. Contudo, a liberdade de ação, de que desfrutam, é limitada pelas suas necessidades e não se pode comparar à do homem”.

É o que vemos em O Livro dos Espíritos.

606. Donde tiram os animais o princípio inteligente que constitui a alma de natureza especial de que são dotados?

“Do elemento inteligente universal.”

a) - Então, emanam de um único princípio a inteligência do homem e a dos animais?

“Sem dúvida alguma, porém, no homem, passou por uma elaboração que a coloca acima da que existe no animal.”

607. Dissestes (190) que o estado da alma do homem, na sua origem, corresponde ao estado da infância na vida corporal, que sua inteligência apenas desabrocha e se ensaia para a vida.

Onde passa o Espírito essa primeira fase do seu desenvolvimento?

“Numa série de existências que precedem o período a que chamais Humanidade.”

600. Sobrevivendo ao corpo em que habitou, a alma do animal vem a achar-se, depois da morte, num estado de erraticidade, como a do homem?

“Fica numa espécie de erraticidade, pois que não mais se acha unida ao corpo, mas não é um Espírito errante. O Espírito errante é um ser que pensa e obra por sua livre vontade. De idêntica faculdade não dispõe o dos animais. A consciência de si mesmo é o que constitui o principal atributo do Espírito. O do animal, depois da morte, é classificado pelos Espíritos a quem incumbe essa tarefa e utilizado quase imediatamente. Não lhe é dado tempo de entrar em relação com outras criaturas.”

O cientista espírita italiano, Ernesto Bozzano, de forma inédita, pesquisou dezenas de casos de materializações de animais, demonstrando que a alma desses seres sobrevive ao corpo e desfruta, momentaneamente, de uma quase erraticidade. Esse quase significa um tempo bem inferior ao dos espíritos, dotados de livre-arbítrio, com plena consciência de si mesmos e com um fator diferenciado em seus processos mentais, o que o espírito André Luiz denominou de pensamento contínuo. O que nos leva a concluir que no mundo extra físico não há manadas de elefantes, matilhas de cães ou uma alcatéia de lobos.

O princípio inteligente encarnado nos animais traz em si todas as potencialidades morais e intelectuais. Tem, em estado rudimentar, conforme o nível de progresso que haja realizado, a afetividade, a inteligência e a moralidade em estado de gérmen, tanto quanto o psiquismo desenvolvido de acordo com a necessidade. Quem convive com eles sabe que demonstram, ainda que de forma rudimentar, emoções que seriam próprias dos humanos. Expressam ciúme, alegria, tristeza, medo e uma série de emoções conforme o seu nível evolutivo.

A ciência admite que os animais têm uma inteligência rudimentar, também conforme as suas necessidades. Mas rejeita, ainda, a idéia de que possuam emoções. Há um preconceito científico, paradigmático, em relação a essa questão. A acusação de antropomorfismo é inevitável em pesquisas que objetivem a evidência de que eles possuam emoções semelhantes às humanas. Portanto, a existência de um psiquismo, de uma transcendência espiritual, de uma alma nos animais, ainda está muito longe de ser admitida pela ciência.

Pesquisas recentes sobre a existência de emoções nos animais tentam superar o preconceito acadêmico do antropomorfismo. Essas pesquisas apontam para um caminho que possivelmente venha a admitir a existência de espiritualidade nos animais. Espiritualidade significa a posse de uma dimensão espiritual que sobreviva e transcenda à matéria, que tenha um caráter espiritual, relativo ao espírito, à existência de um princípio espiritual. Isso a ciência rejeita de forma radical.

Essa visão transcendental que o espiritismo oferece na compreensão da vida animal tem um profundo sentido ético que deverá ser aplicado não somente no convívio com essas belas criaturas, no grande ecossistema terrestre, mas também na legislação. Documentos como a Declaração Universal dos Direitos do Animal, proclamada na UNESCO em 15 de outubro de 1978, apontam para um comportamento que dignifica os animais, atribuindo-lhes direitos que sempre foram negados. O nível evolutivo de uma civilização também se mede pelo tratamento dado a esses bichinhos que nos encantam, nos seduzem e que contribuem para tornar a nossa vida mais bela. 

Fonte: Eugenio Lara, arquiteto e designer gráfico, é fundador e editor do site PENSE - Pensamento Social Espírita, membro-fundador do CPDoc - Centro de Pesquisa e Documentação Espírita, expositor do Centro Espírita Allan Kardec, de Santos e do Instituto Cultural Kardecista de Santos.
Por Eugenio Lara.

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